Aquele ambiente era mágico. Dia de estreia. Ano de 1998. Eu tinha de 13 para 14 anos. Estúdios da Rádio Jornal AM 950 de Sousa, alto sertão da Paraíba.
A insegurança própria da idade brigando com a paixão crescente pela comunicação, maior do que os medos, superior às fragilidades naturais e quase invencível timidez.
O dia havia começado bem mais cedo para mim até pegar o táxi e me deslocar sozinho de Marizópolis com frio na barriga e tudo até chegar às solitárias ruas de um domingo em Sousa.
Escadarias da emissora, degrau a degrau, prenunciavam o que viria no futuro, cada fase, cada etapa a ser conquistada com chuvas de suor, nuvens de lágrimas e trovões de coragem.
Jornais Correio e o Norte, do sábado, na redação. Naquela época, a fonte quase exclusiva para produção. Ao lado, a máquina datilográfica portátil, presente de minha tia Pompéia, que carregava como um amuleto sagrado.
Meio sem jeito para encarar os novos colegas de batente e mergulhado em torrentes de ansiedade, chegou a hora. Meio dia em ponto estava para entrar no ar o Antena Ligada, meu primeiro programa de rádio 22 anos atrás.
Ao atravessar a porta e penetrar aquela sala, o espaço que seria minha nova companheira para as décadas seguintes, ares quase místicos tomaram conta de mim.
O cheiro do estúdio, a temperatura artificial de ar-condicionado. Tudo compunha um quadro absolutamente inexplicável.
Até que a luz vermelha de no ar acendeu para eu anunciar a hora certa e ela me anunciar para o mundo radiofônico.
Fixei os olhos no microfone já visivelmente surrado pelo tempo e com sua capa gasta. Sem forro, dava pra ver a cápsula interna.
Paralisei até que o sonoplasta, separado de mim num aquário de vidro, perguntou como quem já tinha a resposta. “Você sabe que esse microfone ainda é o mesmo do tempo que seu pai (falecido) trabalhou aqui (14 anos antes)?”
Ele falava de José Maria Madrid, que mais de uma década antes, havia inaugurado a emissora, ao lado de outros grandes profissionais do rádio nordestino. O pai com quem a separação conjugal não me permitiu conviver e que morreu antes de um reencontro para compensar a ausência.
Mexi a cabeça e entendi tudo o que ainda não estava claro. Não era só uma estreia. Era um encontro entre mim e aquele que – mesmo depois de um longo sumiço em vida e da morte seguida – ainda estava comigo.
Era o destino me beijando sem deixar mais nenhuma dúvida de minha sina.