Uma reunião ministerial fake (por Ricardo Noblat) – Heron Cid
Bastidores

Uma reunião ministerial fake (por Ricardo Noblat)

10 de junho de 2020 às 16h00 Por Heron Cid
Jair Bolsonaro durante uma conferência com a imprensa e apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília Andressa Anholete/Getty Images

O governo volta a divulgar os dados completos sobre a tragédia do coronavírus. Desiste de transferir para a Secretaria de Comunicação da presidência 83,9 milhões de reais do programa Bolsa Família. E tenta apagar a lembrança da reunião ministerial repleta de palavrões disparados por Jair Bolsonaro com a primeira reunião ministerial fake da história do Palácio da Alvorada.

Transmitida ao vivo pelas redes sociais, a encenação de pouco mais de duas horas não teve espaço para ameaças e ataques aos demais Poderes. Se na reunião anterior de abril último pouco ou nada se falou sobre o vírus que até ontem matou quase 38.500 brasileiros, dos quais 1.185 nas últimas 24 horas, nesta cada um dos ministros contou o que já fez para combater a pandemia.

Meio sem jeito, o presidente declamou que lamenta as mortes. À vontade, o ministro Paulo Guedes, da Economia, falou sobre a prorrogação por mais de dois meses da ajuda emergencial para os mais necessitados, 30 milhões deles até então desconhecidos pelo governo. A ajuda para além do previsto não será de 600 reais mensais, mas de 300. Melhor do que nada, é o que supõe.

Sinais de arrependimento dos pecados cometidos até aqui? Qual nada! O de sempre. Avanço e recuo, avanço e recuo. Bolsonaro não mudou de opinião nem de planos. Os ministros só mudarão se for para continuar alinhados com ele. Como Bolsonaro criticou a Organização Mundial da Saúde, o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, também o fez em grande estilo.

A ordem de comando permanece a mesma: testar todos os limites impostos pela lei ao poder presidencial e se possível alargá-los à custa do enfraquecimento dos demais poderes. Estressar o país até quando não der mais. O único limite é a abertura de um processo de impeachment que, uma vez instalado na Câmara dos Deputados, pode se tornar incontrolável. Nem o Centrão segura.

Ao fim e ao cabo, se seu sistema de pesos e de contrapesos funcionar, a democracia poderá cantar vitória por ter sobrevivido a prova tão dura. O que não significa que sairá mais forte. Resistiu ao assalto de um grupo de milicianos que pretendia domesticá-la ou substitui-la por um regime autoritário. Mas não venceu o vírus que antes dormia no seu organismo. O vírus acordou.

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