Precisamos reafirmar o óbvio: vidas negras importam (por Anne Nunes) – Heron Cid
Bastidores

Precisamos reafirmar o óbvio: vidas negras importam (por Anne Nunes)

6 de junho de 2020 às 22h39 Por Heron Cid

O assassinato brutal do afro-americano George Floyd, por um policial branco da cidade de Minneapolis, deu início a uma onda de protestos pelos Estados Unidos, em razão da violência contra a população negra. A partir de então, observamos, nos últimos dias, uma forte eclosão de manifestações por todo o mundo, contra a banalização do corpo negro e a descartabilidade de algumas vidas em detrimento a reafirmação de uma superioridade racial branca.

A morte de George representa a ponta de um iceberg muito maior, e se torna incontestável a afirmação da artista Elza Soares, quando diz que a carne mais barata do mercado é a carne negra. Precisamos enxergar o que está diante dos nossos olhos há centenas de anos: o racismo vem asfixiando e matando milhares de homens, mulheres, jovens e crianças, em um processo contínuo de genocídio da população negra. No Brasil, certamente essa realidade é enraizada desde a experiência colonial, que marginalizava grupos e subalternizava vidas.

Os números comprovam isso. De acordo com pesquisa do IBGE (2019), sobre Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, a curva de vulnerabilidade de pessoas negras está em constante ascensão. Ao menos 75% dos assassinatos que acontecem no Brasil, ocorrem sobre a população negra.

A cada 23 minutos uma pessoa negra é morta. A população negra tem 2,7% mais chances de ser assassinada em relação às pessoas brancas. A expectativa de vida de uma pessoa negra é cinco anos menor em relação à branca. Os dados explicitam que as estruturas racistas em nossa sociedade são pulsantes e inerentes a nossa formação histórica e social. É indubitável a declaração de uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil, Sueli Carneiro, de que “a opressão racial é como uma síndrome respiratória aguda e grave, pois impede de respirar”.

Especialmente nesses tempos de pandemia, onde as desigualdades sociais ficam ainda mais escancaradas, precisamos reafirmar o óbvio: VIDAS NEGRAS IMPORTAM! Os movimentos das redes sociais, como o #BlackLivesMatter e #BlackoutTuesday, precisam ser incorporados cotidianamente, e não apenas como uma moda passageira, porque o assassinato da população negra é diário e, muitas vezes, silenciado.

A morte do menino Miguel Otávio, de 5 anos, ao cair do 9º andar de um edifício de luxo no Recife, após a mãe (empregada doméstica negra) descer para passear com o cachorro da patroa; a morte do jovem João Pedro, de 14 anos, durante ação das Polícias Civil e Federal no Rio de Janeiro; a morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, baleada nas costas enquanto voltava da escola; a morte de George Floyde, de 46 anos, asfixiado por um policial, e a morte de todas as outras milhares de pessoas negras não podem ser esquecidas. A sociedade não deve ser cúmplice e apática. É intolerável naturalizar o desprezo pelas vidas negras!

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