O anúncio de um programa de 40 bilhões de reais para financiar salários em empresas de menor porte, ao custo equivalente à taxa Selic (3,75%) e prazo de 36 meses para resgatar a dívida, é um passo em boa direção, mas está longe de resolver o problema de caixa gerado pela interrupção súbita de vendas.
Nos países que agiram nessa área – casos da Alemanha, do Reino Unido e da Coreia do Sul –, o governo criou um subsídio salarial e não uma linha de crédito como a anunciada pelo governo brasileiro. Nesses países, o governo paga, a fundo perdido, algo como 80% ou 90% dos salários até certo valor, decisão condicionada ao compromisso das empresas de manter os empregos.
O financiamento do governo representa um alívio momentâneo de caixa, o que não deixa de ser importante, mas mantém o custo salarial das empresas. Apenas se adia o respectivo desembolso. As empresas continuarão fragilizadas, pois muitas não terão como pagar a dívida no período de sua amortização.
Em resumo, o apoio oficial é relevante, mas para grande parte das empresas apenas adiaria o momento de sua falência, se nos próximos dois meses ou nos próximos três anos. O risco de extinção de empresas permaneceria, o que é ruim para a futura recuperação da economia. O seu desaparecimento reduzirá o PIB potencial e tão somente adia o desemprego.
A saída é transformar o programa em subsídio salarial. Para evitar que a medida comprometa o teto de gastos, o governo pode propor ao Congresso um crédito extraordinário. No ambiente de calamidade em que oficialmente estamos, as respectivas despesas seriam excluídas daquele limite.