Crônica de segunda – Heron Cid
Bastidores

Crônica de segunda

23 de março de 2020 às 12h19

A “crônica de domingo” ficou para hoje. Tentei o fim de semana inteiro escrever alguma coisa aqui. Não deu. Não faltou inspiração. Sobrou preguiça.

Não aquela preguiça de cansaço físico. Talvez uma fadiga mental mesmo. Conformei-me pensando comigo mesmo que ninguém sentiria falta, a não ser o autor.

Além do mais que quero eu atrevendo-me a escrever crônicas numa cidade de um Gonzaga Rodrigues, um Rubens Nóbrega e um Kubitschek Pinheiro.

Quase pedi socorro a Kubi, como carinhosamente nós colegas chamamos o Pinheiro, o que vagueia fácil e provocativamente nos parágrafos de um jeito só seu.

Sem apetite para teclar no computador algumas mal traçadas linhas telemáticas, desejei ler o “K” e suas divagações bem terrenas.

Vejo nele algo da poesia dura e inocente de Belchior, o meu autor preferido em “alucinações” reais. Aliás, nem sei direito como fui apresentado ao compositor de Sobral na distante Marizópolis.

Só sei que, com alguns trocados ganhos das incipientes atividades de locutor moço latino americano e sem dinheiro no banco, caí de paraquedas do Calçadão em Sousa e na loja de discos (já eram CD’s – eu só tenho 36) .

Tudo do pouco que recebia apostava nesse prazer. Nem lembro se já tinha ouvido ou se comprei por curiosidade. Mergulhei na coletânea de 24 músicas. Os sons, as palavras foram como “navalhas”.

Hoje é segunda-feira, nunca foi tão preguiçosa, apesar do agito do noticiário e eu nem escrevi nada sobre o passamento de Marcelo Piancó. Estou todo arrumado e sentado na cadeira do meu caseiro escritório “em que trabalho”, mas não fico rico, nem multiplico.

Na paralela, minha mulher me olha agora mesmo, enquanto digito, admira a roupa e pergunta com as mãos caídas em meus ombros: “Vai pra onde”? Ela nem disse, mas falava da quarentena do coronavírus.

No apartamento, não no oitavo, mas no terceiro andar, porque foi o que o dinheiro deu para financiar, deu vontade de abrir a vidraça e gritar quando o carro passa.

À Palo Seco? Sujeito de Sorte? Tudo Outra Vez? Ou Divina Comédia Humana? “Eu sou como você, que me ouve agora…”.

Comentários