Bolsonaro diz que não vai permitir que dinheiro público financie filmes que ele não viu, mas lhe disseram ser pornográficos, como “Bruna surfistinha”, e “por respeito às famílias” tenta instituir a censura dos financiamentos à produção cinematográfica que geram empregos e milhões em impostos. E nem são de “dinheiro público”, mas do Condecine, um fundo formado pela renda de diversos filmes financiados por ele.
Por que as famílias se ofenderiam? Ninguém é obrigado a assistir ao filme. E quantos membros das famílias viram escondidinho? Quantos se excitaram? A pornografia está nos olhos de quem vê. E o que o Estado tem a ver com isso?
Faltou dizer “essa Bruna Surfistinha é um péssimo exemplo para garotas, tá ok?” Positivo. Mas o que o livro e o filme mostram são as terríveis consequências de seus erros, ela acaba se vendendo por trocados para sustentar seu vício em cocaína. Não seja otária de imitar Bruna, é a maior roubada, é mais a visão do filme do que julgar Bruna. Pornô zero.
Embora seja “neutro”, centrado na trajetória pessoal de uma personagem muito interessante, o filme é “contra” a prostituição e as drogas, não há glamourização, o preço é alto; o final é triste.
O mais interessante de Bruna Surfistinha é como uma garota baixinha e sem maiores atrativos físicos conquistou tantos fãs e clientes pelas palavras, contando suas transas, excitando a galera com suas postagens no Facebook, como uma Sherazade digital. Com a cabeça, conseguiu mais do que com o corpo. Virou um mito, ao alcance de quem pagasse para ver.
Os cachês da Bruna real eram modestos, mas a história seria outra se ela tivesse a beleza e o sex appeal de Deborah Secco e a sua arte de representar, atributos que fazem a diferença num mercado altamente competitivo, em que muitas estão por necessidade, mas outras por vontade, exercendo seu direito de fazer o que quiserem de seu corpo. Engana-se quem pensa que elas vendem (só) sexo: dão alegria, carinho, simpatia, aceitação, consolo e, às vezes, até amor.