Governo promove expurgo para não ouvir visões divergentes (por Bernardo Mello Franco) – Heron Cid
Bastidores

Governo promove expurgo para não ouvir visões divergentes (por Bernardo Mello Franco)

24 de julho de 2019 às 11h00 Por Heron Cid
Jair Bolsonaro, presidente da República, realiza pronunciamento em rede nacional - 24/04/2019 (//Reprodução)

Na segunda-feira, Jair Bolsonaro excluiu todos os representantes da sociedade civil que integravam o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas. A canetada atingiu profissionais que lidam diretamente com o problema da dependência química, como médicos, psicólogos e assistentes sociais. Ficaram apenas ministros e burocratas federais.

O presidente disse que o decreto acabará com o “viés ideológico” nos debates. Seria mais correto dizer que acabará com o contraditório. O governo já tinha maioria no conselho, mas era obrigado a ouvir opiniões divergentes. Agora não haverá mais contraponto à visão oficial.

“Estamos vivendo um retrocesso inacreditável”, critica o neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele define a medida como um “expurgo”, instrumento de regimes autoritários para eliminar o dissenso. “Agora teremos um conselho homogêneo, que só vai dizer o que o governo quer ouvir”, resume.

O professor acusa o presidente de jogar a população contra a ciência e as universidades. Ele se diz indignado com o ataque ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o desmatamento da Amazônia. “Esta retórica agressiva não cabe no cargo que ele ocupa. A gente já passou por muita coisa no Brasil, mas isso é inaceitável”, afirma.

Ribeiro é secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que realiza sua 71ª reunião anual em Campo Grande. O encontro reúne mais de 20 mil participantes e se estende até sábado. No encerramento, deve haver novos protestos contra Bolsonaro e os cortes de verba do setor.

“O Brasil está recuando ao mesmo nível de investimento em ciência de 15 anos atrás”, afirma o professor. Ele diz que a penúria tem acelerado a fuga de cérebros para o exterior. “Só no meu laboratório, tenho cinco alunos sem bolsas para estudar. Se não houver um socorro urgente, o CNPq vai parar em setembro. Podemos perder décadas de investimento em inovação”, alerta.

O Globo

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