Dá pena quando alguém para diminuir um nordestino chama-nos de “Paraíba”. O que ele pensa como adjetivo pejorativo é uma condecoração. A nordestinidade é uma identidade, mais do que uma origem geográfica. E ela é um estandarte desse povo.
Para nós, paraibanos, orgulho ainda maior cada vez que essa Nação à parte do Brasil é, aqui e acolá, chamada de os “Paraíba”, como fez ontem, traído pelo microfone e arroubo, o presidente Jair Bolsonaro ao se referir aos governadores da região.
Até acho que, quanto à suspeita de tratamento preconceituoso, o presidente merece o benefício da dúvida. Pode ter sido força de expressão comum a muitos ‘sulistas’ quando querem citar o Nordeste, vez por outra tratado por “Norte”.
O pecado de Bolsonaro está no conteúdo de outro tipo de discriminação: contra adversários, gestores que pensam diferente e que lhe fazem oposição.
Determinar ao ministro da Casa Civil, Ônyx Lorenzoni, que não se dê “nada” ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), taxado de “o pior de todos”, é mais do que impropriedade, é crime.
Alguém precisa avisar a Jair que ele recebeu do povo brasileiro, incluindo os nordestinos em menor escala, um mandato, não um reinado.
E que por mais que um contingente dos seus admiradores – parte convertida em devotos – o tenha como uma excelsa divindade, purificada de erros, e se comporte como súditos, não estamos numa monarquia absoluta, onde o chefe de Estado tem palavra de rei e pode dizer quem vive e quem morre.
Somos uma República. Nela, ao menos em tese, todos os entes devem ser tratados com igualdade. Tanto faz São Paulo ou o Maranhão. O critério de tratamento a um povo, representado pelo seu governador, não comporta o “viés ideológico”, que tanto Bolsonaro condena.
O contrário é imoral e, segundo nossa Constituição que o ex-capitão jurou honrar, também ilegal. Um presidente não é presidente de quem votou nele, é presidente de todos: liberais, conservadores, progressistas, comunistas, paulistas, cariocas e “Paraíbas” e outros tantos estereótipos.
Aliás, os “Paraíba”, como diz Bolsonaro, não são e nem se sentem menores. Somos esclarecidos o suficiente para respeitar e tratar, nas nossas diferenças culturais, políticas e geográficas, como iguais e irmãos todos os povos dessa rica e miscigenada Nação brasileira.
Ser Paraíba não é defeito. Ser babaca ou imbecil, sim. Em alguns casos chega ao nível patológico, digno de tratamento. Noutros, só curado por milagre divino.
À propósito, na Bíblia – livro que o presidente diz seguir – há um ensinamento que Bolsonaro deveria considerar, antes de abrir a boca.
Em Provérbios 17:28, atribuído a Salomão, este sim um rei, há uma lúcida advertência contra a estupidez: “Até o insensato passa por sábio quando fica calado; de boca fechada, até parece inteligente”.