Ponto para o general que se apressou a dar satisfações sobre o a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, no Rio. O carro em que Evaldo estava com a família foi alvo de 80 tiros disparados por soldados do 1º Batalhão de Infantaria Motorizado, na Vila Militar.
Em compensação, por ignorância, ingenuidade ou porque de fato acredita, o general afirmou que as milícias que hoje controlam partes do Rio surgiram com a “intenção de proteger as comunidades”. E ainda acrescentou: “Na boa intenção”.
Milícia é coisa de policial militar aposentado e de muitos ainda na ativa. Como o Estado não oferece ao cidadão segurança contra o crime organizado, é o que a milícia faz. Mas nunca o fez de maneira desinteressada e sem nada cobrar. Sempre foi um negócio, e ilegal.
Mais de 2,5 milhões de cariocas, hoje, vivem num Estado de exceção. Quer dizer: em áreas dominadas por facções criminosas e por milícias. A lei que ali existe é a lei do crime. Ora as facções e as milícias operam em conjunto. Ora lutam por espaços.
A quimera de policiais bonzinhos, inicialmente interessados em proteger as comunidades só porque o Brasil está acima de tudo e só abaixo de Deus, jamais passou de uma quimera, capaz, pelo jeito, de enganar até generais como é o caso do ministro da Defesa.
Azevedo e Silva poderia ter-se limitado a deplorar a morte do músico, a manifestar solidariedade à sua família e a prometer que os responsáveis pelo crime serão punidos. Mas, não. Para o crime reservou uma expressão branda: “lamentável incidente”.
Também o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, chamou o bárbaro assassinato de “lamentável incidente”. Tão loquaz nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro não tocou no assunto. O governador do Rio preferiu tirar o corpo fora.
Incidente, segundo os dicionários, é algo que “incide, sobrevém; que tem caráter acessório, secundário; incidental, superveniente.” Atingir um carro com 80 tiros não é uma coisa secundária. Não tem caráter acessório. Não foi algo incidental.
Se apenas um tiro tivesse sido disparado e matado um inocente, que nome se daria a isso? Ou não dariam nome algum? Ou o ministro da Defesa sequer teria ido à Câmara se explicar? Lugar de soldado armado é na guerra ou no quartel. Nas ruas, não é.