Dos vários problemas do Facebook, um deles vai se consolidando como um importante obstáculo à resolução dos demais. Chama-se Mark Zuckerberg.
Nesta semana, ele tentou de novo. Publicou outro de seus manifestos, desta vez pedindo, veja só, mais regulação governamental sobre empresas como a que comanda. Seria apenas uma iniciativa curiosa não fosse o histórico; um ano atrás, ele se desviava desse debate ao falar com congressistas.
A esta altura, nada do que Zuckerberg fala soa crível. Basta olhar a repercussão na sua própria página —os comentários negativos prevalecem.
No mês passado, ele jurou prezar pela privacidade dos usuários. Um ex-conselheiro seu, Roger McNamee, definiu a fala como “um esforço de relações públicas que mais uma vez nos afasta do problema central”.
Dentro da cortina de fumaça, existem coisas que merecem atenção, pois ele sabe bem como a banda toca. Nesta semana, escreveu: “As leis de propaganda política focam em candidatos e eleições, e não em assuntos políticos divisivos onde vimos mais interferência. Algumas leis são aplicadas só nas eleições, mas as campanhas não param”.
Esse texto, por sinal, provou que a maré de azar de Zuckerberg é cruel até nas coincidências. Ele escolheu o jornal The Washington Post para publicá-lo. Ao discutir a privacidade dos internautas, sentenciou: “Companhias como o Facebook devem ser punidas quando cometem erros”. Três dias depois, novo escândalo para a rede social, com milhões de dados de usuários expostos na Amazon, do mesmo dono do Post.
Uma empresa que atende diariamente 1,5 bilhão de pessoas é, por óbvio, especial. Zuckerberg a construiu com rédea curta. Nos últimos meses, grande parte do círculo próximo a ele caiu fora —uma exceção é Sheryl Sandberg, ela própria também envolta em controvérsia. Achar quem suceda seu fundador não está fácil, mas parece um caminho cada vez mais inteligente para o Facebook.