Que tal?
Não faz o menor sentido.
O fato é que o presidente efetivamente se interessa mais e se ocupa mais à vontade de questões como os pecados do carnaval e a posse de armas.
Tome-se o caso da reforma da Previdência. É verdade que, ao apresentar a proposta no Congresso, o presidente disse que estava errado quando, como deputado, foi contra a reforma. Mas, como se o passado pesasse mais, o presidente aceitou logo de cara mudanças no texto produzido pelo seu governo — que reduzem a eficácia do projeto — e nada mais fez além de reproduzir peças de propaganda das medidas.
Uma reforma dessas, como a tributária, outro exemplo, só passa com ação pessoal e convincente do presidente da República. Ou de ministros do primeiro escalão, assim credenciados pelo presidente.
Ou, por outro lado, o presidente se ocupando de pornografia carnavalesca só convence seu próprio público, que não precisa ser convencido disso, mas das reformas e privatizações.
Na semana passada, houve um outro caso de desgaste bem diferente, é claro, mas também mostrando a difícil combinação entre ideologia e governar para todos. Foi o episódio envolvendo a cientista política Ilona Szabó, indicada e dispensada pelo ministro Sergio Moro para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Moro indicou-a por ter tomado conhecimento de suas ideias, críticas às propostas de Bolsonaro. E dispensou-a por pressão de uma ala do governo, com forte participação dos filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro.
Quem explicou bem a situação foi o general Mourão, o vice-presidente. De um lado, disse, houve a bronca “da ala mais radical dos apoiadores do presidente”, que a considerou uma futura sabotadora. De outro, completou o vice-presidente, a esquerda, território de Ilona Szabó, também a patrulhou, acusando-a de aderir ao governo.
Tudo radicalizado e errado. Ela ia participar de um conselho consultivo, sem qualquer condição de sabotar, muito menos de aderir.
E quando não se pode colocar pessoas diferentes para conversar, “perde o Brasil”, comentou Mourão.
Também perde, acrescentamos, com o tal vídeo.
O Globo