Que socialismo, presidente? Ascânio Seleme – Heron Cid
Bastidores

Que socialismo, presidente? Ascânio Seleme

2 de janeiro de 2019 às 17h00
Presidente Jair Bolsonaro no Parlatório do Palácio do Planalto | EVARISTO SA/AFP

Jair Bolsonaro fez um discurso mais político e popular no Parlatório. Parecia um candidato em campanha. E, como sempre ocorre nesses casos, exagerou no tom e no conteúdo. Dizer que estava ali para libertar o Brasil do socialismo não foi apenas retórica, foi discurso para quem queria ouvir isso mesmo. Mas era bobagem. Primeiro, de que socialismo falava Bolsonaro? Do herdado de Michel Temer? Se fazia referência aos governos petistas, chegou atrasado, seu antecessor já havia mudado a direção do governo para a linha que o empossado escolheu seguir. E mesmo os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma nunca foram socialistas. Foram sociais democratas com foco na distribuição de renda. Ponto final.

No tom, foi além do ponto ao fazer fora do script a referência à bandeira brasileira. Nem tanto ao repetir o mantra de que a bandeira brasileira jamais será vermelha, mas ao dizer que só ficaria vermelha com o seu sangue na defesa das cores verde e amarela. Exagerou e a plateia adorou. Aliás, público como aquele não queria um discurso que não fosse nesse tom. Bolsonaro entendeu isso e falou da família brasileira que vai defender de nefastas ideologias. Usou e abusou de ataques à esquerda, afinal por que mesmo ele estava ali?

No ponto em que falou de libertar o Brasil do socialismo, citou ainda o gigantismo estatal e o politicamente correto. Ponto polêmico que seria bom explicar melhor. Porque o politicamente correto é uma evolução e significa evitar o uso de linguagens ou ações que sejam excludentes. E Bolsonaro disse no Congresso que governaria sem discriminação. Em outros pontos do discurso, o presidente repetiu com palavras diferentes, mais inflamadas e de maneira mais direta, o que já havia dito ao tomar posse.

Bonito mesmo fez a primeira dama, com um discurso não previsto em linguagem de sinais. Foi elegante, simpática e emocionou até mesmo a moça que ao seu lado fazia a leitura dos discurso de libras de Michele. Agradou ao público e ao marido, que agradeceu com uma bitoca. Escorregou uma única vez, ao citar apenas um dos três filhos do marido, o vereador Carlos. Pode gerar ciúmes, e esse é o tipo de sentimento insondável que é melhor não provocar.