Apenas 11 deputados apareceram no plenário da Câmara, ontem de manhã, para lembrar os 50 anos do AI-5. Estavam em menor número que os 20 cartazes com retratos de vítimas da ditadura. Um deles homenageava o ex-deputado Rubens Paiva, que teve o mandato cassado e foi morto num quartel do Exército.
Embora o painel eletrônico marcasse a presença de quase 300 parlamentares, a maioria já estava longe de Brasília quando a sessão começou. O presidente Rodrigo Maia ficou na cidade, mas não saiu da residência oficial. Ele nasceu no Chile porque o pai foi perseguido pelos militares e precisou se exilar fora do país.
“Seria inadmissível a Câmara dos Deputados do Brasil deixar este 13 de dezembro passar sem uma sessão de memória, de repúdio ao arbítrio e de alerta aos tempos sombrios que sempre nos ameaçam”, disse o deputado Chico Alencar, que presidiu a sessão.
O tom de alerta também marcou a fala de Ronaldo Lessa. “Agora, em 2018, vivemos um clima de disputa e intolerância muito tóxico. Devemos nos lembrar das lições do passado e precisamos evitar cometer os mesmos erros. Precisamos construir pontes”, conclamou. Ele embargou a voz ao lembrar dois amigos mortos pelos órgãos de repressão.
O deputado Tadeu Alencar disse que o Brasil vive um momento desafiador, “em que sentimos claramente o assanhamento das forças que se identificam com esse período tenebroso da história brasileira”. Não deu nomes aos bois, e nem precisava.
Em dezembro de 2008, outro deputado usou os microfones da Câmara para comemorar o 40º aniversário do Ato. “Ocupo esta tribuna, com muita honra, para defender o AI-5”, anunciou, sem corar.
“Eu louvo o AI-5 porque, pela segunda vez, colocou um freio naqueles da esquerda”, prosseguiu o orador. Ele expôs uma visão particular da história, na qual os militares teriam lançado o país nas trevas “para conter o terror” e evitar “um processo de comunização”.
O deputado que exaltou a ditadura ainda recebe salário da Câmara, mas não apareceu na sessão de ontem. Daqui a 18 dias, ele receberá a faixa presidencial.