Esta eleição teve muita renovação, mas os jovens são ainda pequena minoria nos partidos. Há mais filiados com mais de 79 anos do que gente entre 18 e 24, diz o cientista político Lúcio Rennó. Existem alguns casos animadores em que eles chegam não apenas com sua juventude, mas com novas formas de se relacionar com os eleitores. É o caso do mandato compartilhado, do mandato conjunto, ou até mesmo a convicção do eleito de que recebeu na urna uma orientação de trabalho.
Entrevistei recentemente três deputados de primeiro mandato e que decidiram disputar as eleições no movimento de renovação da política. Três casos exemplares, mas diferentes entre si. Felipe Rigoni foi eleito pelo PSB do Espírito Santo para a Câmara Federal. Ele perdeu a visão aos 15 anos por uma doença congênita, é engenheiro de produção, trabalhou no movimento de empresas juniores e foi para Oxford estudar com uma bolsa da Fundação Lemann e entrou no RenovaBR. Felipe quer uma relação constante com os eleitores e fará isso através de aplicativos que todo cidadão capixaba poderá baixar. Montou também uma rede de instituições com as quais vai discutir os projetos, e inclusive as emendas que apresentará. Ele é um defensor do empreendedorismo.
— Desde que participei de movimento de empresas juniores, aprendi que nada é mais poderoso que o momento em as pessoas se sentem donas de um projeto. Por isso, pensei no mandato compartilhado para que as pessoas e instituições possam interagir comigo — afirma Felipe.
Jô Cavalcanti é deputada estadual em Pernambuco pelo PSOL, mas fez a sua campanha com outras quatro mulheres, na ideia de exercer um mandato conjunto. Ela é ambulante, mas há uma professora, uma jornalista, uma advogada, uma trans. E Jô diz que é preciso, com movimentos assim, “reiventar a esquerda”. As cinco são ativistas de diversas causas e são todas feministas.
— O governo de Pernambuco é de esquerda, mas nós somos mais de esquerda. Haverá momentos de divergir, mas como o cenário nacional é bem extremo, haverá momentos também de convergir — diz Jô.
Daniel José foi eleito deputado estadual de São Paulo pelo Partido Novo. Ele é o caçula de 11 filhos de uma diarista e de um auxiliar de serviços gerais. Formou-se no Insper com bolsa e foi estudar em Yale apoiado também pela Fundação Lemann. É um dos líderes do movimento RenovaBR:
— Minha plataforma será a educação. Foi a educação que transformou minha vida, vindo de origem humilde e de uma realidade tipicamente brasileira. Mas, no Novo, outra bandeira que levou a gente a ser eleito é a do combate aos privilégios dos políticos e a da eficiência do gasto público.
Eles têm ideias concretas de como começar a trabalhar, sabem porque entraram na política e que bandeiras defenderão. Querem estar sempre em contato com os eleitores. O movimento ainda é incipiente, porque de acordo com o cientista político Lúcio Rennó a renovação que aconteceu nesta eleição foi grande mas não foi geracional, e foi muito marcada pela onda conservadora.
— Não é uma renovação que passa necessariamente por novas visões da política. Essas pessoas (os três jovens que entrevistei) são, de fato, exceções. Mas acho que esta eleição traz principalmente no eleitor jovem uma forma diferente de entender o mandato. Nesses poucos casos de sucesso, o jovem traz para a política uma forma nova de representação, muito mais próxima do eleitor, usando novas tecnologias e essa ideia de coletivizar os processos decisórios — afirma o professor da Universidade de Brasília.
Os jovens políticos que entrevistei na Globonews mostraram intimidade com a pauta pública. Daniel José disse que um desafio é tornar a Assembleia de São Paulo importante, porque 80% dos projetos são irrelevantes, e quer trabalhar para reverter a queda do estado no ranking do ensino médio. Jô terá desafio duplo, ficar em contato com as bases e manter a proposta de exercer, com as outras quatro mulheres, o que ela prefere definir com o feminino, a “mandata” que recebeu das urnas. Felipe Rigoni entende que faz parte de um momento decisivo da política:
— A renovação é de pessoas, de práticas e de princípios. E essa é a renovação que eu, o Daniel e a Jô lutamos para representar.
A mudança não é repentina, lembra Lúcio Rennó, mas, se esses casos derem certo, podem consolidar uma nova forma de se fazer política.
O Globo