Os eleitores de Jair Bolsonaro foram atraídos por uma das várias promessas que estão incluídas em seu apelo eleitoral. Mas cada um fez sua escolha no kit que o candidato do PSL ofereceu. Alguns acreditam que ele tem uma solução milagrosa contra a violência, como um dia houve quem apostasse que Collor mataria a inflação com um tiro. Outros acham que o conservadorismo dos costumes vai prevalecer. Há os que votam nele porque os pastores mandaram. Muitos votam com raiva da crise econômica e do desemprego. Uma grande parte dos eleitores está com ele por ser antipetista. Alguns imaginam que ele acabará com a corrupção.
Todo candidato que chega tão confortável à reta final da campanha é porque conseguiu se vender bem como produto eleitoral. Pela soma de seus acertos e dos erros dos adversários. Mas cada grupo de eleitores projeta em Bolsonaro a solução para o seu problema, ainda que ele não esteja oferecendo uma proposta concatenada que indique saber o caminho para aquele drama. A violência, por exemplo, é assunto complexo que não será resolvido com liberação de posse e porte de armas, nem com redução da maioridade penal. Ele não deu qualquer resposta para quem quer de fato saber como vai enfrentar e vencer o poder das facções criminosas, do tráfico, das milícias, da falta de integração entre as polícias, dos presídios. Para nada disso houve respostas nas entrevistas, no programa ou na mídia social. Mas, o sinal dos dedos do candidato simulando uma arma passou a ideia de que ele dará “um tiro” e tudo estará resolvido.
A corrupção vem sendo enfrentada pelas instituições que o Brasil construiu ao longo dos últimos 30 anos, as mesmas que tantos na sua campanha afrontam, como fez seu filho Eduardo contra o STF. O governo ajudou quando não interferiu na Polícia Federal. O Ministério Público e a Justiça Federal continuarão seu trabalho de investigação e punição dos casos de desvios, mesmo os que venham a acontecer num eventual governo Bolsonaro. Mas sua campanha tem o discurso mítico de que vai resolver tudo rapidamente, só por chegar lá. Não há uma proposta de transparência e controle que confirme racionalmente essa ideia. É apenas o marketing de que vai limpar tudo, como prometeu Jânio Quadros com sua vassoura, ou Collor com os seus marajás. É da natureza das campanhas eleitorais que as propostas sejam simplificadas pelo marketing, mas uma democracia já amadurecida como a do Brasil merecia ter mais do que meia dúzia de clichês sem significado concreto.
Na economia, Jair Bolsonaro promete tirar o Estado “do cangote de quem produz”. Mas até agora tudo o que falou não mostra como o governo vai reduzir impostos na atual crise fiscal. Pelo contrário, algumas ideias aumentam o rombo. O mercado financeiro começou a aderir com alguma reserva, mas agora o discurso que se ouve é consensual. Jair Bolsonaro virou o capitão dos liberais. Ele não tem qualquer track record, para usar palavras deles, de um liberal, mas quando o mercado monta uma posição, azar dos fatos. Até fora da área financeira há eleitores dizendo que votam nele porque ele é um liberal. As contradições entre o que dizem e pensam os núcleos político e econômico do candidato são conhecidas, mas aqui a crença de poderes mágicos é transferida para o economista Paulo Guedes.
Há também os que se identificam com as declarações do candidato que reforçam os preconceitos. Eles sempre existiram, evidentemente, do contrário não estariam mulheres e negros em condições de desigualdade. Gays em situação de fragilidade. Negros sendo as maiores vítimas de homicídio. Mulheres com problemas que vão das distorções no mercado de trabalho ao feminicídio. Bolsonaro diz agora que acabará com o “coitadismo” desses grupos. Nunca deve ter olhado uma estatística das desigualdades brasileiras.