Não passa semana sem que Jair Bolsonaro, seus filhos ou seus auxiliares pendurem nas manchetes um cacho de declarações polêmicas. O grupo dá frases tóxicas como a bananeira dá bananas. A penúltima esquisitice veio na forma de um comentário do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O filho do presidenciável favorito declarou que ”para fechar o STF basta um cabo e um soldado”. Disse também que se o STF impugnar a candidatura do seu pai “terá que pagar para ver o que acontece.” Indagou: “Será que eles vão ter essa força mesmo?” Ai, ai, ai.
Feita em 9 de julho, a gravação é anterior ao primeiro turno da eleição. Eduardo Bolsonaro dava palestra na cidade paranaense de Cascavel, num curso preparatório para concurso da Polícia Federal. Um dos alunos perguntou se o Exército poderia agir caso o STF impugnasse eventual vitória de Jair Bolsonaro. Um expositor com dois neurônios diria que é impensável uma intervenção do Supremo num processo eleitoral submetido às normas constitucionais. Sobretudo considerando-se que as questões eleitorais estão afetas ao TSE, não ao STF.
O filho do capitão, entretanto, achou sensato injetar no impensável uma dose de inimaginável. Declarou o seguinte: “Aí já está encaminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí, quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós. Você tá indo para um pensamento que muitas pessoas falam, e muito pouco pode ser dito. Mas se o STF quiser arguir qualquer coisa —recebeu uma doação ilegal de cem reais do José da Silva e, então, impugna a candidatura dele. Eu não acho isso improvável, não…”
Após informar que considera ”provável” o impensável, Eduardo Bolsonaro engatou uma segunda e prosseguiu: ”Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não. O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, milhões na rua? ‘Solta o Gilmar, solta o Gilmar’. Com todo respeito que tenho ao excelentíssimo ministro Gilmar Mendes, que deve gozar de imensa credibilidade junto aos senhores.”
O presidente da República representa um símbolo para a nação. Toca-se o hino nacional onde ele se apresenta, hasteia-se a bandeira. Cada ação sua é exposta ao público nas manchetes. Sua vida e a de sua família estão expostas a permanente escrutínio. Dele se espera que evite procedimentos e declarações vulgares. O mesmo vale para os filhos, um deputado e um senador. Na bica de virar chefe de Estado, Jair Bolsonaro ainda não deu demonstrações de que compreende a dimensão do cargo se dispõe a ocupar. Os filhos tampouco servem como referência dos valores que o presidenciável diz representar.
Falta aos Bolsonaro uma noção qualquer de institucionalidade. Ainda assim, recebem votos. Muitos votos. Depois de examinar o comportamento de políticos como eles, que, por serem representantes de parcela expressiva da população, representam o melhor da sociedade, uma dúvida se impõe: a oferta de candidatos é escassa ou o eleitor brasileiro parou de evoluir?
A despeito da existência de um vídeo que não deixa dúvidas quanto ao despautério dos comentários, até Jair Bolsonaro duvidou: ”Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra.” Mas o filho Eduardo viu-se compelido a confirmaro inegável: ”Acredito que o vídeo não é motivo para alarde, até porque eu mesmo o publiquei em minhas redes sociais há quase quatro meses. Trata-se de mais uma forçação de barra para atingir Jair Bolsonaro…”
Na campanha presidencial de 2018, se os resíduos psíquicos fossem concretos, não haveria rede de esgoto que bastasse.
UOL