São muitos os fios nos quais o PT foi se aprisionando. A candidatura de Fernando Haddad, desde o início, tem tido dificuldade de rompê-los. O evento no Ceará é só a cena pública da incapacidade de o partido olhar com sinceridade para a corrupção que houve nos governos petistas e para o desastre econômico provocado pela adoção das suas teses. Nos dois casos, o PT preferiu a narrativa. Ela reconforta porque parte da ideia de que o inferno são os outros, mas é falsa, como várias das narrativas nesta campanha.
Agora, Fernando Haddad está indo em câmera lenta para algum ponto no centro, mas sem conseguir sucesso em formar a frente ampla. Vai devagar demais para a urgência da hora, porque os fios do núcleo duro do PT amarraram seus gestos e adiam suas palavras. O “assim você vai perder a eleição”, dito pelo ex-governador Cid Gomes, naquele jeito Gomes de ser, é o aviso sincero do desfecho mais provável deste processo eleitoral.
Haddad disse recentemente que os diretores da Petrobras foram deixados “soltos” e isso teria que ser enfrentado num futuro governo do PT. É um avanço em relação à resposta que vinha dando de que há corrupção na Petrobras desde o governo militar, o que é uma forma de fugir da pergunta. Mais do que soltos, os diretores viraram senhores de um compartimento estanque e autossuficiente, com divisões de compra, assessorias, centros jurídicos, tudo separado, como se fosse uma companhia à parte. Eram “babies petrobras”, como explica um dirigente. Eles ficaram soltos, no território de cada um, com muitos poderes internos e blindados contra um olhar externo e até de outra área da própria empresa. Essa governança que favorecia a corrupção já foi desmontada, felizmente.
Não foi só na Petrobras que houve corrupção, os casos são muitos, mas o PT preferiu a linha definida na frase infeliz dita pelo então presidente Lula logo após o mensalão. “O PT fez o que é feito sistematicamente neste país.” Quando outras siglas também foram atingidas pelo combate à corrupção, era a hora de abandonar a narrativa da perseguição “das elites” ao partido. Perderam o momento.
No caso da economia, a proposta da campanha foi de fazer o eleitor se lembrar do período de crescimento com inclusão do governo Lula. Parecia uma boa estratégia, foi capaz de levá-lo ao segundo turno, mas não é suficiente para ganhar a eleição. O partido saiu do poder depois de ter provocado uma alta da inflação para dois dígitos, uma grave recessão e uma escalada de desemprego. Jogar todos os problemas no impopular governo Temer é fácil, mas era de novo a forma de fugir das responsabilidades.
Para criticar a administração Dilma Rousseff, o PT teria que renegar o próprio programa econômico que foi formulado por esta campanha e deixar de seguir as ideias do desenvolvimento estatista com expansionismo fiscal. Preferiu apostar na fronteira entre os dois governos. Ficar com um e esquecer o outro. Mas em matéria de política econômica, os erros começaram com Lula e se aprofundaram com Dilma.
Quando perguntado sobre isso na Globonews, Haddad respondeu que a crise foi provocada pela “instabilidade institucional” criada pela oposição, que não reconheceu o resultado das eleições. Fora isso, ele e os economistas do PT admitiram erros apenas pontuais. As desonerações, por exemplo. Mas, evidentemente, houve muito mais. Haddad chegou a defender a política de campeões nacionais — ele não usa o termo — perguntando aos jornalistas quem havia perdido com a política? O contribuinte brasileiro certamente foi o grande perdedor.