PT prefere manter narrativa a encarar os erros. Por Míriam Leitão – Heron Cid
Bastidores

PT prefere manter narrativa a encarar os erros. Por Míriam Leitão

17 de outubro de 2018 às 12h00

São muitos os fios nos quais o PT foi se aprisionando. A candidatura de Fernando Haddad, desde o início, tem tido dificuldade de rompê-los. O evento no Ceará é só a cena pública da incapacidade de o partido olhar com sinceridade para a corrupção que houve nos governos petistas e para o desastre econômico provocado pela adoção das suas teses. Nos dois casos, o PT preferiu a narrativa. Ela reconforta porque parte da ideia de que o inferno são os outros, mas é falsa, como várias das narrativas nesta campanha.

Agora, Fernando Haddad está indo em câmera lenta para algum ponto no centro, mas sem conseguir sucesso em formar a frente ampla. Vai devagar demais para a urgência da hora, porque os fios do núcleo duro do PT amarraram seus gestos e adiam suas palavras. O “assim você vai perder a eleição”, dito pelo ex-governador Cid Gomes, naquele jeito Gomes de ser, é o aviso sincero do desfecho mais provável deste processo eleitoral.

Haddad disse recentemente que os diretores da Petrobras foram deixados “soltos” e isso teria que ser enfrentado num futuro governo do PT. É um avanço em relação à resposta que vinha dando de que há corrupção na Petrobras desde o governo militar, o que é uma forma de fugir da pergunta. Mais do que soltos, os diretores viraram senhores de um compartimento estanque e autossuficiente, com divisões de compra, assessorias, centros jurídicos, tudo separado, como se fosse uma companhia à parte. Eram “babies petrobras”, como explica um dirigente. Eles ficaram soltos, no território de cada um, com muitos poderes internos e blindados contra um olhar externo e até de outra área da própria empresa. Essa governança que favorecia a corrupção já foi desmontada, felizmente.

Não foi só na Petrobras que houve corrupção, os casos são muitos, mas o PT preferiu a linha definida na frase infeliz dita pelo então presidente Lula logo após o mensalão. “O PT fez o que é feito sistematicamente neste país.” Quando outras siglas também foram atingidas pelo combate à corrupção, era a hora de abandonar a narrativa da perseguição “das elites” ao partido. Perderam o momento.