Cássio: da ascensão nacional à queda estadual – Heron Cid
Opinião

Cássio: da ascensão nacional à queda estadual

11 de outubro de 2018 às 11h16 Por Heron Cid
Cássio Cunha Lima conquistou tamanho no centro do poder; o estrelato custou a perda de força entre os conterrâneos

Se estiver num restaurante em São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) será fatalmente cumprimentado por clientes. Gente que passou a conhecê-lo mais pelo desempenho nas tratativas nacionais, especialmente, no epicentro da crise e do impeachment, com aparições frequentes na mídia nacional e lugar reservado no alto clero do Congresso e da cúpula tucana. Foi de líder do PSDB a vice-presidente, no Senado.

Na Paraíba, o sucesso não se repetiu nas urnas. O Estado, de ampla maioria de simpatia petista, não viu com bons olhos o desempenho parlamentar ascendente do paraibano na cena nacional. Compreensível. O destaque serviu para tirar Dilma Roussef, um desastre consensual, e empoderar Michel Temer, cujo governo virou sinônimo de rejeição desde quando explodiu a delação da JBS.

A tentativa de desassociação ao governo Temer, meta de sua campanha de marketing, não foi suficiente ao ponto de desapartar as imagens, apesar do rompimento, das críticas e da defesa de investigação do presidente nas duas denúncias apresentadas contra o emedebista pela Procuradoria da República.

Esse, claro, não foi o fator único da derrota assistida, com ares de surpresa e bocas abertas Paraíba afora, nesse domingo último.

Durante os últimos quatro anos, Cunha Lima virou alvo preferencial, renitente e sistemático do governador Ricardo Coutinho e toda sua articulação política. Religiosamente, o socialista atacava e desqualificava o adversário. Quando não era perguntado sobre Cássio, Ricardo puxava-lhe para o centro do ringue com exaustivos socos verbais.

Coutinho focou na derrota daquele a quem um dia foi aliado e venceu junto as eleições de 2010, numa aliança rompida em 2014, com vitória do governador e derrota cassista. O insucesso da eleição passada também somou bastante para deteriorar a liderança de Cássio em rincões e colégios eleitorais onde predominou por muito tempo.

No mais, a queda é resultado do acúmulo de desgaste ao longo de mais de três décadas de exercício de mandatos, sem interrupção, no instante em que o eleitor optou por renovação e novas apostas. Cássio não fora a única vítima. O povo mandou para casa os caciques Romero Jucá, Edison Lobão e Eunício Oliveira e até políticos da estampa de Cristovam Buarque (PPS), Miro Teixeira (PDT) e Chico Alencar foram à guilhotina. O tucano entrou no redemoinho também.

No cômputo geral, um paradoxo: a opção pela duríssima e combativa oposição aos governos do PT, que deu a Cássio tamanho nacional e respeito no centro da política, foi a mesma que teve peso  decisivo na sua queda estadual, onde a maioria do eleitor – à semelhança de todo o Nordeste – tem lembrança afetiva e gratidão a Lula. Foi o preço.

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