Esqueçam essa conversa de que o PT levará a candidatura de Lula até o fim. É papo-furado. O “fim” será o “não” do TSE, a mais certa de todas as coisas na eleição. Sim, o PT pode recorrer depois ao próprio tribunal e ao STF. Mas vai substituir o “candidato” por Fernando Haddad, o vice. Na prática, já está fazendo isso. O ex-prefeito de São Paulo começou seu périplo pelo Nordeste, onde é chamado, frequentemente, de “Fernando Andrade”. Dilma foi “Vilma” até se eleger em 2010. Em 2014, já sabiam o nome dela, para má sorte do Brasil e, em certa medida, do próprio PT. Adiante.
A estratégia, como está hoje, já contempla um tanto de “loucura no método”, para inverter a fala de Polônio em Hamlet sobre o discurso do príncipe maluquete (“método na loucura”). Sim, o partido está sendo metódico porque bem-sucedido em fazer de seu líder máximo um suposto preso político”.
Saibam que, mundo afora, em instituições multilaterais, esse discurso colou. E também é eficiente em terras nativas: um presidiário que conta com 39% das intenções de votos no primeiro turno já conseguiu recuperar boa parte do seu prestígio. Notem que desta feita, não se trata de superar a desconfiança de 2002: “Será que um ex-operário, sem escolaridade, consegue ser presidente?” Essa resposta já está dada. A memória que têm os mais pobres da gestão de Lula diz a mais de 50% do eleitorado, que votam no petista no segundo turno, que “sim”: ele consegue ser presidente. A barreira em 2018 é, em tese, ainda mais difícil porque apela a uma questão moral: trata-se de vencer o prurido de votar num preso. E, por óbvio, só se faz essa escolha quando se considera que a prisão é injusta.
A destruição da classe política, empreendida pela Lava Jato, está na raiz da ressuscitação de Lula. Assim, mantê-lo candidato pode não ter recuperado a imagem do PT como um todo — embora a legenda seja a preferida de 24% do eleitorado; em segundo lugar, vêm PSDB e PMDB, com apenas 4% … —, mas chancelou com as urnas, ainda que simbólicas, o seu renascimento. Desse ponto de vista, a prisão fez um bem imenso ao candidato impossível: quando foi encarcerado, Lula tinha 30% dos votos; agora, pode ter mais de 40%, já que a margem de erro da pesquisa é dois pontos para mais ou para menos.
Mas a loucura na escolha também está presente. O partido terá três ou quatro semanas para operar uma transferência de muitos milhões de votos. Haddad aparece com 4% das intenções de voto. Digamos que, para ir à etapa final, precise de 20%. Num total de 147,3 milhões de eleitores, terá de ganhar 16 pontos percentuais. Estamos falando de 23,5 milhões de pessoas. Se a coisa se der como quer o PT, com a inelegibilidade de Lula sendo declarada só no dia 17, essa migração terá de acontecer em três semanas: mais de um milhão de pessoas por dia, na média. Há petistas graúdos que não apostam nisso. Mas ninguém tem a coragem de falar. Lá da cadeia, o homem emite seus “diktats”.
A “loucura no método”, pois, já implica substituir Lula por Haddad, mas só na data-limite. Sim, o PT pode recorrer ao próprio TSE e depois ao STF contra a declaração de inelegibilidade do seu chefe mesmo depois do dia 17, mas fará a substituição, sim! Caso o partido decidisse insistir na candidatura à espera do último recurso, o nome do ex-presidente seria mantido na urna eletrônica. Sendo o registro definitivamente negado depois de milhões lhe darem seus respectivos votos, os ditos-cujos seriam declarados inválidos. Se o segundo colocado conseguisse metade mais um dos VÁLIDOS, estaria eleito.
O PT não vai correr esse risco. A história de que o crescimento de Lula nas pesquisas poderia levar a essa escolha doidivanas é só para confundir os adversários. O PT só quer atrair um pouco mais a fúria da direita xucra para convertê-la em votos, como vem fazendo e com sucesso.
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