Geraldo Alckmin jogou água no chope de Ciro Gomes. O pedetista abre hoje a temporada das convenções partidárias. Ontem à noite, o tucano estragou os preparativos da festa. Ele venceu a disputa pelo apoio do centrão na corrida presidencial.
Alckmin estava desacreditado. Desde o início do ano, ele sofre para convencer aliados, empresários e eleitores de que não será um peso morto na eleição. O acordo tem potencial para ressuscitá-lo.
Ao fechar negócio com o centrão, o tucano garantiu um latifúndio no horário eleitoral. Ele poderá chegar a seis minutos a cada bloco de propaganda em rádio e TV. Agora Ciro é quem terá que se mexer para não sumir do radar do eleitor.
Até aqui, Alckmin só colecionava más notícias na pré-campanha. Ele foi sabotado pelo aliado João Doria e viu parte do eleitorado cativo do PSDB migrar para a candidatura de Jair Bolsonaro.
O tucano aparece em quarto lugar no Datafolha, com apenas 7% das intenções e voto. É um desempenho sofrível para quem já foi candidato ao Palácio do Planalto e governou por quatro vezes o estado mais poderoso do país.
Apesar de investir no discurso ético, o presidenciável pediu socorro a símbolos do que diz combater. Ele costurou o acordo do centrão com o ex-deputado Valdemar Costa Neto, o poderoso chefão do PR. Alguns dias antes, selou aliança com Roberto Jefferson, dono do PTB.
É uma estratégia curiosa. Na eleição de 2006, Alckmin apostou tudo na indignação do eleitorado com o mensalão do PT. Agora ele se alia a dois caciques que foram presos e condenados por corrupção no mesmo escândalo.
O acordo com o centrão também reforça o vínculo do candidato do PSDB com o governo Temer, do qual ele tentava se distanciar. Agora o tucano terá em seu palanque a maior parte da base aliada no Congresso. Não será surpresa se o MDB desistir de Henrique Meirelles para apoiá-lo.
O tempo de TV deve impulsionar Alckmin, mas não é garantia absoluta de sucesso na eleição. Em 1989, Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves tiveram as maiores fatias da propaganda na TV. Um terminou a disputa em sétimo lugar. O outro, em nono. E naquele tempo não havia celular, WhatsApp ou Facebook.
Folha