O fantasma da violência e a porta arrombada. Por Bernardo Mello Franco – Heron Cid
Bastidores

O fantasma da violência e a porta arrombada. Por Bernardo Mello Franco

28 de março de 2018 às 08h34 Por Heron Cid
Tiros atingem ônibus da caravana de Lula, no Paraná

As ameaças ao ministro Edson Fachin e os tiros na caravana do ex-presidente Lula acrescentam um novo círculo ao inferno político-judicial do país. A violência armada, que já assombrava as ruas das cidades brasileiras, também passou a rondar a cúpula da Justiça e a eleição presidencial.

O ministro Fachin relatou as ameaças ao jornalista Roberto D’Avila, da GloboNews. O Supremo reforçou sua segurança, mas ele indicou que não está satisfeito com as providências. “Nem todos os instrumentos foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso, e esperando que não troquemos fechadura de uma porta já arrombada”, desabafou.

Fachin é relator dos processos da Lava-Jato, que envolvem grandes empresários e políticos de diversos partidos. O ministro não ligou as intimidações a um caso específico. Na virada do ano, 67 inquéritos corriam em seu gabinete.

Na caravana de Lula, a violência já saiu do campo das ameaças. Desde a semana passada, a comitiva tem sido alvo de pedradas e bloqueios em rodovias da Região Sul. Ontem à noite, três tiros atingiram os ônibus que transportam o ex-presidente e sua equipe. Os disparos perfuraram a lataria dos veículos, mas não deixaram feridos. No sábado, uma pedra atingiu o ex-deputado Paulo Frateschi, que teve a orelha macerada.

Os agressores se organizaram com antecedência pela internet. São ruralistas e militantes de direita que prometeram impedir, à força, a passagem do ex-presidente por seus estados. O PT acusa as polícias militares de fazer “corpo mole”.

Lula descreveu o cerco como “selvageria”, mas também sugeriu que a PM aplicasse um “corretivo” em quem lhe tacava ovos. Na segunda-feira, um segurança a serviço do partido socou um repórter que acompanha a caravana.

Num país dividido pela polarização política, seria excesso de otimismo esperar uma eleição livre de violência. Há cerca de 15 presidenciáveis na rua, e a Polícia Federal ainda nem informou como será o esquema de segurança das campanhas.

Esperar que algo aconteça para discutir o que fazer é apostar na doutrina da “porta arrombada”, como diria o ministro Fachin. Hoje completa duas semanas o assassinato da vereadora Marielle Franco.

O Globo

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