A exacerbação ideológica no Brasil chegou aos níveis máximos. Corrijo: ultrapassou todos os limites. No moinho do histérico e estéril debate entre esquerda e direita, espectros quase em extinção, perdeu-se o prumo das coisas.
Se na arena política, há despudorado aproveitamento de todas as partes, nas redes sociais assistimos deprimentes pichações digitais sobre a brutal execução da vereadora Marielle Franco.
Militantes que se apresentam com ideários de esquerda responsabilizam defensores do impeachment de Dilma Rousseff, ou o próprio Governo Temer, pela bárbara morte.
Uma forma enviesada de combater a intervenção federal no Rio, cartada política do sucessor do petismo, herança, portanto, deixada pela aliança PT/PMDB.
Até charges com panelas atirando contra o carro da ativista social foram espalhadas, numa culpabilização direta a setores identificados como de direita.
No revide, ultra-radicais do outro lado ocupam-se em desqualificar a reputação e assassinar, pela segunda vez, a cidadã e política executada sem chance de defesa.
Ligam, sem constrangimento, a vereadora ao crime organizado, forjam relacionamentos amorosos com um traficante, com direito até a fotos atribuídas a ela.
Como se qualquer um desses boatos, se um dia viessem a ser comprovados, justificassem a barbaridade ou diminuísse a culpa dos autores da tragédia.
Uma tentativa tresloucada, cruel e covarde de fazer da vítima a culpada.
O radicalismo é revelador. Aponta a patologia de uma sociedade abatida pelas crises políticas e pelo caos da violência.
Doença que apresenta seus perversos sintomas.
Na política, as pessoas não querem diálogo, elas buscam o confronto.
Nas ruas, o cidadão não quer paz. Ele grita pela retaliação.
No Brasil, não se pede mais justiça. A maioria quer justiçamento.
Para justificar causas, conceitos e preconceitos, vale tudo. Até pisar em cima de cadáveres.
Ao ponto de chegarmos à necessidade de escrever o óbvio: ninguém merece execução sumária. Nem os frios e covardes pistoleiros que silenciaram a jovem parlamentar com o nítido objetivo de afrontar o Estado brasileiro.
Quem atirou contra Marielle, tinha uma missão. A bala acertou em todos nós, brasileiros e brasileiras, indistintamente. Crivou o peito de um País, num ato de força para mostrar quem manda.
Esse crime, portanto não deveria dividir. Ele precisa se prestar para unir uma Nação contra o inimigo comum: a violência.
Venha de onde vier, das facções ou das milícias, dos morros ou dos bandidos infiltrados na farda da Lei.