Bretas, a versão pão com ovo de Moro. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Bretas, a versão pão com ovo de Moro. Por Reinaldo Azevedo

2 de dezembro de 2017 às 07h29

Lembram-se desta foto?

Ainda voltarei a ela.

Jair Bolsonaro, se eleito presidente da República, já tem um candidato a ministro dos Direitos Humanos: o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio. E o que ele fez para merecer tal distinção? Ora, posou com um fuzil na mão. Está mais do que indicado para a tarefa.

Bretas decidiu ser a versão pão-com-ovo de Sérgio Moro, que tem cara de champanhe com caviar.

O que vai dizer Caetano Veloso?

É evidente que eu preferiria, como já fiz algumas vezes, e o faço ainda hoje neste blog, estar aqui a debater a decisões do juiz, se estão fundamentadas ou não na lei, se obedecem a este ou àquele entendimento do direito; se ele evidencia filiar-se a algumas das correntes de pensamento em voga na área…

Ocorre que o homem adora ser notícia em razão de questões extracurriculares…

A última do doutor é isto que se vê abaixo.

Bretas, um juiz federal, postou no Twitter a tal foto portando um fuzil, acompanhada de uma legenda muito eloquente:
“Agradeço à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro pelo treinamento, bem como à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro pela escolta pessoal, e ainda ao amigo Desembargador Paulo Rangel, do TJRJ pelo apoio”.

Bretas está fazendo treinamento de tiro. Para quê? Sei lá… Testar a mira.

É tudo impróprio, a começar do agradecimento. Se quiser, que o faça privadamente. A Polícia Militar do Rio está obedecendo a uma determinação legal. Quanto ao “desembargador amigo”, não sei a que vem o afago. Mas também ele é impróprio. De um magistrado, espera-se circunspecção.

Eu preferiria ver Bretas a posar com a Constituição na mão, não com um fuzil.

E isso na cidade da bala perdida, que sempre acha um preto e pobre pela frente. Às vezes, um branco, do tipo que carrega faixas para Bretas.
E isso no país dos 61.169 mil homicídios por ano — a quase totalidade, por arma de fogo.
E isso no momento em que está em curso uma campanha histérica em favor da armamento da população, tese de que Bolsonaro é entusiasta.

Bretas é o juiz que tentou mandar Sérgio Cabral para um presídio de segurança máxima porque o ex-governador o teria ameaçado ao lembrar que sua família lida com bijuterias. A informação é pública e está em todo canto.

Em abril, o juiz pediu reforço de sua segurança depois de três alegadas ameaças de morte, duas delas supostamente oriundas de presídios onde estão investigados da Lava Jato. Num terceiro episódio, dois homens teriam ido à 7ª Vara Federal do Rio e feito perguntas a funcionários sobre a rotina de Bretas.

Pode ter acontecido? É, pode…

Como o juiz ficou sabendo que duas ameaças partiam do presídio? Alguém disse? Recebeu uma ligação por celular? Mandou rastrear e chegou aos responsáveis? Quando aos dois homens… Bem, se devem ser temidos, o risco maior está na burrice, né? Afinal, se queriam pegar o juiz, passaram antes na 7ª Vara para alertá-lo, é isso?

Bem, em todo caso, a sua segurança pessoal foi reforçada. Mas a foto que ele divulga concorre para deixar o país menos seguro.

Bretas, sabemos, tem um entendimento bastante particular do mundo, do habeas corpus, do direito, do decoro…

A propósito: estaria se preparado para alguma guerra civil quem, não sendo profissional se segurança, treina com um fuzil?

Pois é…

Outra foto
O doutor gosta de aparecer. Voltemos à foto lá do alto.

Lá está Caetano Veloso a sustentar a vírgula entre o sujeito e o verbo.

Bretas virou herói “dozartistas” em agosto porque, mesmo depois de habeas corpus concedido pelo Supremo, mandou prender de novo o empresário Jacob Barata Filho, que agora vira notícia outra vez.

Segundo a faixa de Caetano e amigos, também segurada por Bretas, o Rio estava com o juiz.

Está ainda?

Agora com o fuzil na mão?

Como disse Paulo Ferreira, motorista de táxi que me levou ao trabalho nesta sexta, “a culpa não é dele, mas da onça”.

— Não entendi, seu Paulo…

— A culpa é da onça porque ela tava sem fome no dia em que eles nasceram.

Eis um país do Onça!

Se bem que, consta, no tempo no Onça, era preciso cumprir a lei…