O olhar racional do mestre da emoção sobre a política – Heron Cid
Opinião

O olhar racional do mestre da emoção sobre a política

3 de outubro de 2017 às 00h38 Por Heron Cid
Nem ponto e nem vírgula, escritor deixa reticências para a inserção na política

Os pensamentos, as teses, as teorias e os fundamentos do psiquiatra Augusto Cury são conhecidos do mundo inteiro, especialmente do seu gigante público de leitores espalhados por quase setenta países.

Com cinquenta livros publicados e 30 milhões de exemplares vendidos, só no Brasil, Cury se notabilizou nas suas reflexões sobre a vida, o ser humano e o universo da mente.

O que pouca gente sabia era a visão política e o interesse sobre esse objeto de estudo, até Cury ser entrevistado no Frente a Frente, programa que apresento na TV Arapuan.

“99% das pessoas estão despreparadas para ter o poder”. “O poder gera uma neurose para se perpetuar”. Só é digno do poder quem é desprendido do poder para servir a sociedade”. Essas foram algumas das frases arrancadas do sóbrio e comedido psiquiatra, uma celebridade que evita ao máximo entrevistas e quebrou protocolo no programa.

Augusto não se fez de rogado ao ser interpelado sobre os efeitos emocionais da crise política brasileira. “O maior problema da atualidade não é a corrupção que minou as finanças da Petrobrás. Foi o desastre do inconsciente coletivo gerando uma desesperança no seu próprio país. Isso gera uma pedagogia para que no futuro o jovens possam se corromper”.

Ele defendeu que a sociedade busque alternativas fora do circuito tradicional da política. “O poder estressa. As pessoas precisam ter tempo para namorar a vida. Todas as pessoas que se perpetuam no poder acabam se autodestruindo, quando deveriam dar espaço para novas pessoas”.

Augusto condenou o revezamento e  carreirismo político e sugeriu leis para limitar mandatos. “Deveria ter leis para que um deputado ficasse no máximo dois mandatos e o presidente só um mandato. A vida não nos pertence. Não tem sentido ser a pessoa mais importante do cemitério”.

Pela primeira vez, o autor de vários best sellers revelou um convite de partido político para disputar a Presidência da República, em 2018. Uma confissão que vai dar o que falar:

“Há pessoas que me convidaram para ocupar cargo e disputar a Presidência. Eu tenho filhas e esposa e estou tentando ser presidente da minha casa”, brincou. “Espero através dos meus livros dar minha contribuição social, não como político”.

Ao perceber a confissão, insisti no tema enunciando que, na condição de analista político, interpretava a resposta como uma vírgula, ao invés de um ponto final. E ouvi a seguinte resposta: “É uma virgula para escrever um novo texto quem sabe daqui a mais uma década”.

Na verdade, nem vírgula e nem ponto. Uma sábia reticência de quem, do seu modo, já exerce espontânea liderança e influencia milhões, sem palanque e nem partido.

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