“Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos à Dona Marisa? Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”.
A pergunta deveria suscitar ao menos um minuto de silêncio ao PT e a militância do ex-presidente Lula. Ela foi feita, em carta dirigida ao partido, pelo ex-ministro da Fazenda e até pouco tempo integrante da cúpula da legenda, Antônio Palocci.
Palocci, convertido no PT agora a alvo de processo de suspensão da filiação, é um réu confesso. Passou meses se segurando e insistindo na tese de que ele, o PT e Lula não cometeram crimes. Ante os fatos e a condenação, jogou a toalha e resolveu admitir o que já está mais do que claro por depoimentos e provas: a existência de uma organização criminosa montada para tirar dinheiro da Petrobrás e financiar um projeto político, numa ponta, e arrancar benefícios pessoais, noutra.
O ex-ministro reiterou ter testemunhado um momento crucial. O dia em que Lula deixou ele, Dilma e Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobrás, perplexos ao encomendar sondas e propinas, sem a menor cerimônia, em pleno Palácio da Alvorada, “na cena mais chocante que testemunhei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o País já construiu em toda nossa história”.
A pergunta deveria calar fundo no coração de fundadores do Partido, assim como Palocci. A indagação deveria provocar um instante de lucidez a uma bem intencionada militância. A interrogação deveria instigar uma reflexão entre fervorosos seguidores apaixonados de um ex-presidente que simbolizou esperança e novos rumos para o Brasil.
Ungida por Lula, a nova presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, implicada com o marido Paulo Bernardo na Lava Jato, deve ter respirado fundo antes de assinar a resposta, em nome do partido:
“A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores. Política e moralmente, Palocci já está fora do PT”.
Foi a lamentável confirmação do que já se temia: no seu purgatório, o PT se transformou numa seita para jamais acreditar em qualquer pecado do seu Deus. Ainda que anjos e demônios revelem o contrário.