Foi humano e sensível da parte do governador Ricardo Coutinho o pedido de silêncio, na solenidade do Orçamento Democrático, em Campina Grande, em gesto de pesar pelas sete mortes de adolescentes internos do Lar do Garoto.
Foi corajosa a atitude dos 35 juízes da Vara da Infância da Paraíba de chamar atenção para o problema da superlotação e da ausência de estrutura das unidades sócio-educativas. Sem este pronunciamento talvez o tema não tivesse alcançado a preocupação que se requer.
Mas só sinal de luto e notas públicas não amenizarão o quadro de total desmantelo deste sistema, que culminou com este banho de sangue. Muito menos o confronto entre instituições e a terceirização de responsabilidades.
É hora de reconhecimento da fragilidade e, especialmente, de admitir que as políticas de ressocialização e condições mínimas de dignidade humana de adolescentes infratores não são uma prioridade do Governo, do Judiciário e tampouco da sociedade.
Se fosse, não estaríamos testemunhando esse cruel massacre, bem na frente do nosso nariz, apesar de todos os alertas feitos sobre a superlotação, a insalubridade e a baixíssima capacitação do quadro de pessoal que lida, diariamente, com um trabalho tão melindroso e delicado.
Afora investigação e apuração de responsabilidades internas e o convite do Judiciário à briga, o Governo planeja qual intervenção estrutural ou política efetiva, localizada e direta, para aos menos impedir novas chacinas?
Além de registrar as notórias e indisfarçáveis falhas do Estado, que providências e esforços o Judiciário pensa em emprestar para cooperar e apontar saídas, e não apenas o dedo em riste?
De confronto, basta os dos internos. O drama requer mais do que alguns segundos de silêncio, quando se esperava do governador, situado à pouca distância física do problema (Campina Grande e Lagoa Seca), ação enérgica e até presença física e simbólica no epicentro do fogo, encarando e administrando a crise.
Judiciário e sociedade são intimados a fazer sua parte, mas concentra-se nas mãos do Governo – formulador de políticas, executor de projetos e administrador do dinheiro – a tarefa maior. Essa responsabilidade o Estado não pode transferir. Nem silenciar.