Lar do Garoto; grito não resolve, muito menos silêncio – Heron Cid
Opinião

Lar do Garoto; grito não resolve, muito menos silêncio

4 de junho de 2017 às 11h50 Por Heron Cid
Imagens divulgadas por funcionários atestam: instituição pode ser chamada de tudo, menos de Lar

Foi humano e sensível da parte do governador Ricardo Coutinho o pedido de silêncio, na solenidade do Orçamento Democrático, em Campina Grande, em gesto de pesar pelas sete mortes de adolescentes internos do Lar do Garoto.

Foi corajosa a atitude dos 35 juízes da Vara da Infância da Paraíba de chamar atenção para o problema da superlotação e da ausência de estrutura das unidades sócio-educativas. Sem este pronunciamento talvez o tema não tivesse alcançado a preocupação que se requer.

Mas só sinal de luto e notas públicas não amenizarão o quadro de total desmantelo deste sistema, que culminou com este banho de sangue. Muito menos o confronto entre instituições e a terceirização de responsabilidades.

É hora de reconhecimento da fragilidade e, especialmente, de admitir que as políticas de ressocialização e condições mínimas de dignidade humana de adolescentes infratores não são uma prioridade do Governo, do Judiciário e tampouco da sociedade.

Se fosse, não estaríamos testemunhando esse cruel massacre, bem na frente do nosso nariz, apesar de todos os alertas feitos sobre a superlotação, a insalubridade e a baixíssima capacitação do quadro de pessoal que lida, diariamente, com um trabalho tão melindroso e delicado.

Afora investigação e apuração de responsabilidades internas e o convite do Judiciário à briga, o Governo planeja qual intervenção estrutural ou política efetiva, localizada e direta, para aos menos impedir novas chacinas?

Além de registrar as notórias e indisfarçáveis falhas do Estado, que providências e esforços o Judiciário pensa em emprestar para cooperar e apontar saídas, e não apenas o dedo em riste?

De confronto, basta os dos internos. O drama requer mais do que alguns segundos de silêncio, quando se esperava do governador, situado à pouca distância física do problema (Campina Grande e Lagoa Seca), ação enérgica e até presença física e simbólica no epicentro do fogo, encarando e administrando a crise.

Judiciário e sociedade são intimados a fazer sua parte, mas concentra-se nas mãos do Governo – formulador de políticas, executor de projetos e administrador do dinheiro – a tarefa maior. Essa responsabilidade o Estado não pode transferir. Nem silenciar.

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