
Coloquei a cartolina no chão do piso irregular de cimento queimado. Com a ajuda de moldes vazados, lápis azul e vermelho, passei a pintar as letras garrafais. Uma manchete sobre a outra e lá estava a capa do “meu primeiro jornal”. Os habitantes da casa número 18 da Rua Ana Rocha foram os primeiros leitores. Únicos também. Dali para frente, eu queria viver só de escrever.
Anos depois, a audiência aumentou. O Jornal Cidade em Foco já tinha formato tabloide e oito páginas difíceis de preencher. O protótipo teve vida por algumas edições mensais. Com direito a fotos na diagramação de Rodrigo Melo, colaboração de Rodolfo Júnior e reportagens de Jota Ferreira e Geocleber Gomes. Todos amigos daquela infância de fins dos anos 90, em Marizópolis.
Por esses tempos também veio flerte com a poesia. Ter descoberto ser neto de poeta, Cosme Ferreira Marques, paraibano de Bananeiras, e acessado suas obras, mexeu com a cabeça efervescente de menino. As rimas das palavras soavam como melodia aos meus ouvidos. Garimpá-las e organizá-las era um artesanato tanto atraente quanto desafiador.
Inspiração não faltava. Dei uma de compositor e fundei a ‘Moleque Travesso’, banda de um integrante só; eu, baterista e vocalista. O palco era o quintal de dona Nuita. A bateria feita de latas de leite ninho cobertas de plástico e amarradas com ligas, e os pratos e chimbal de latas redondas de doce. No caderno de arame, botava as letras escritas à mão. Não tava nem aí para notas e cadências. Cabia no meu mundo de sucessos. Acho que até hoje tem vizinhos com as mãos nos ouvidos.
Na sala de aula, adorava Redação. Era a disciplina que me fazia suspirar. Incentivado pela professora Valmiza, costumava vencer o drama da timidez crônica e lia os trabalhos em voz alta para a toda turma ouvir. Quando vinha um aplauso, eu morria e só faltava sumir lá do fundão. Foi Valmiza que me alertou, certa vez. Eu seria reprovado se continuasse faltando as aulas dela para cumprir expediente matutino na Rádio Progresso AM. Larguei de lado o microfone e segui o conselho da mestra.
Por isso, adiei a paixão pelo rádio e TV e consegui passar no vestibular de Jornalismo da UFPB. Anos mais tarde, já jornalista, a direção do Correio da Paraíba me deu a ousadia de escrever uma coluna política diária – de domingo a domingo. Preencher duas laudas, com texto de abertura, notinhas e seções já seria uma dor de cabeça. E somada essa tarefa a programas de rádio, televisão e a direção editorial e gestão de um portal de notícias (MaisPB)?
Ufa! Sobrevivi, como sobrevivo até hoje domando o tempo na unha para tentar – quase sempre em vão – manter um blog de análises políticas minimamente atualizado. Continuo desafiado pelo mesmo malabarismo de equilibrar as labutas paralelas no rádio e na televisão. Mas, como no comecinho de tudo, não desisti daquele antigo sonho. Antes de morrer, eu quero viver de escrever…