
O meu sonho de ser jogador de futebol – o mesmo de nove em cada dez meninos no Brasil – foi jogado para escanteio pela avassaladora descoberta do campo das palavras e das ondas do rádio. E a vida profissional foi jogar em desafios cotidianos que vão driblando outras paixões.
Nessa, minha cadeira cativa de torcedor flamenguista ficou aposentada por algum tempo na arquibancada da vida. Via uma ou outra coisa, mas sem aquele acompanhamento rubro-negro de antes. Virei um espectador distante e pontual, um flanático adormecido por anos.
Fui despertado após décadas de anestesia para ver – com regularidade – Wesley, os dois Léos, Gerson, Bruno Henrique, Cebolinha, Luiz Araújo, Airton Lucas, De la Cruz, Pulgar, Rossi e…Arrascaeta. A seleção agora de Filipe Luís.
Um elenco vibrante que dá gosto de ver e torcer. Retaguarda segura, elegância nas saídas, precisão dos passes, domínio da posse de bola, entrosamento diferenciado e arrancadas envolventes até furar a defesa adversária.
Eu – que já nem acompanhava as transmissões – rendi-me, de novo, ao vício de se ligar na TV aberta, fechada e até assistir jogos pelo celular ou com computador no colo, deitado na cama.
De repente, sem me dar conta, me vi doente de novo pelo Flamengo. Aquela paixão voltou a arder, a discutir futebol, a provocar adversários, a se entristecer por pontos perdidos, protestar contra a bola fora e berrar incontidamente o grito de gol.
Achando pouco, arrastei comigo os filhos todos. Menos José, são-paulino convicto. Providenciei camisas para a récua inteira (Herla, Cleiperon, Benjamim e Daniel). De tanta insistência, converti até Marly, minha mulher. Não teve jeito. Largou o Corinthians dela e se juntou à torcida em família de frente à televisão.
Um milagre coroado com a glória da Libertadores e a redenção do nono Brasileirão. Pronto! Uma nova geração flamenguista já está devidamente garantida. Porque, como sabemos, “uma vez Flamengo”…