
Gerson Melo era um invisível. Ou invisibilizado. Só conseguia ser visto quando confrontava a Lei. Só chamou atenção mesmo quando caminhou até a boca da leoa – o capítulo final de uma vida trágica.
Antes, foram 19 anos de esquizofrenia, incompreensão, abandono e delinquência.
Mas se, nesse caso plangente, ficarmos presos ao sensacionalismo das manchetes e ao barulho dos likes das redes sociais, continuaremos falhando.
A Justiça pela incapacidade de fazer valer a Lei, as sentenças e os despachos por internação e garantia de direitos.
A assistência social do Estado pela negligência no acolhimento humano e multidisciplinar de doentes, vulneráveis e abandonados.
A saúde pública, que muita vezes troca ciência por ideologia, e decreta falência no tratamento eficiente e internação (quando necessária) de milhões de pacientes jogados para debaixo do tapete.
E, principalmente, nós – sociedade – que geralmente somos rápidos para gravar, postar, curtir, julgar e até debochar de tragédias…
E muito, muito, tardios para atender rugidos de socorro e insensíveis para salvar vidas enjauladas no sofrimento mental.
Não foi a leoa. Nós somos as feras. E matamos um Gerson por dia…