
A mentira se combate com a verdade, mas a verdade não se combate com mentiras. Gerenciar a crise de um fato comprovado – abertura de inquérito da PF para investigar o prefeito Cícero Lucena – saindo pela tangente e recorrendo à teses inverídicas que não ficam de pé minutos depois, não foi, não é e nunca será a estratégia mais inteligente. Melhor enfrentar a verdade pelo menos com a sinceridade possível.
Existe um fato. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar as suspeitas levantadas pelo Ministério Público da ligação e beneficiamento do prefeito junto a suposto esquema de relações políticas e troca de favores com o crime organizado. A abertura foi determinada pelo Tribunal Regional Eleitoral. Outro fato. O TRE atendeu pedido da Procuradoria Regional Eleitoral. Mais um fato. O prefeito é culpado? Não. Quanto a ele, a investigação está apenas começando.
Formada por uma equipe competente, a assessoria do prefeito Cícero Lucena cometeu o equívoco de optar por sofismas e fez a aposta na pouca inteligência da plateia. Inicialmente, em nota, tentou desqualificar a notícia verdadeira publicada em primeira mão pelo Portal MaisPB, mais tarde replicada e confirmada por uma série de igualmente respeitáveis veículos de imprensa, misturou processos e datas na inócua tentativa de levantar dúvidas da veracidade.
Por fim, o próprio gestor veio a público verbalizar a orientação. No lugar de enfrentar o fato – comprovado e confirmado pela PF -, Lucena sobrevoou a questão jurídica e optou por frágil discurso político, ironicamente condenando “o uso político” do tema. Quando até agora o único político a falar ou explorar o assunto foi ele próprio. Corrijo: ele e mais alguns poucos aliados.
Aos repórteres, Cícero tratou a abertura do inquérito como “desespero”. De quem? Da PF? do Ministério Público? Do TRE? Quem está a serviço dos seus adversários? Procuradores que pediram a investigação, o juiz federal que autorizou ou os delegados e investigadores que estão responsáveis pela apuração?
O recomendável para o caso era a humildade – script eficientemente encarnado pelo prefeito -, o foco na crença do contraditório, na confiança na justiça e na inocência. Mesmo batidos, os velhos clichês nesses casos geralmente funcionam e amortecem o impacto da decisão judicial e da natural repercussão na imprensa, até se encontrar narrativa técnica mais adequada.
Cícero e sua assessoria sabem que um desdobramento judicial dessa relevância têm inevitáveis repercussões políticas, porque o investigado é um famoso político no pleno exercício do poder. E cabe a eles administrá-las com a serenidade dos neurônios, não com as toxinas do fígado. A saída pela retórica meramente política só consegue transmitir a mensagem de fragilidade na consistência da defesa jurídica. O que é uma injustiça! Cícero tem histórico de excelentes advogados.