Sei que é batido dizer que não há como fazer omeletes sem quebrar ovos. Mesmo assim, o prefeito Cícero Lucena (sem partido) tem apostado nessa receita política. Talvez inspirado na indigesta gastronomia de 2022. No omelete a la Cícero, é possível romper com o governo e ser candidato pela oposição contra o projeto do governador João Azevêdo (PSB), sem perder simpatia e apoios do espólio governista.
O tempero principal é o glacê da promessa de voto para senador em João, por quem o prefeito foi penhorada e decisivamente apoiado em 2020 e 2024. Nas circunstâncias que a capital e a Paraíba conhecem.
A caldeirada teve até certo sucesso e comensais nos primeiros dias, mas perdeu consistência após imediata contraofensiva do próprio João. O governador botou ele mesmo o avental e separou os ingredientes em mensagem límpida como clara de ovos; não dá pra comer na mesa da oposição e frequentar a dispensa do governo ao mesmo tempo. Para João, essa massa não dá liga.
Depois veio o chefe Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. No fim de semana, o comandante do Republicanos foi à cozinha do partido para dizer que a sigla tem um só menu para 2026: João, Nabor e Lucas. Saiu do encontro botando placa na parede com os dizeres: “Cícero se juntou aos adversários” de um projeto que o próprio prefeito se alimentou e defende continuidade.
Por último, entrou na sala a senadora Daniella Ribeiro (PP). Ao untar a ruptura do ex-filiado do PP com o fermento de “traição” a João, ao PP e a base partidária do governo, ela agiu na tentativa de resgatar os bônus governistas da prateleira de Cícero para lançar os ônus do rompimento na caderneta do prefeito.
Afinados, Daniella, Hugo e João agiram como quem trabalham para quebrar os ovos do omelete estratégico de Cícero. Sagaz e experiente, o prefeito já levantou os talheres para fazer uma salada de transição. Com molho de MDB e entrada de Veneziano. Como nessa mesa já tem um prato principal, os Cunha Lima serão a sobremesa? Aguarda-se a digestão.