Sejamos francos. Tão grave quanto o conteúdo de Hytalo Santos – “influenciador” com todas as aspas do mundo – é saber que o seu conteúdo tem uma plateia de 20 milhões de seguidores na soma de todas suas redes sociais.
Como é igualmente curioso perceber que tudo aquilo que o ‘influencer’ faz, de forma pública, aberta e algoritmada, há tempos, somente agora passou a ser combatido de forma veemente. Como se fosse novidade ou descoberta investigativa.
Verdade que denunciado ele está desde o ano passado, porém, até aqui, o Ministério Público não havia pedido e, consequentemente, a Justiça não havia banido o suspeito das redes sociais.
Diante da passividade das autoridades, o dono do perfil continuava até ontem faturando alegre e impunemente com suas rifas e jogos bancados às custas de imagens sensualizadas de menores de idade.
Foi preciso outro ‘influencer’ fazer as vezes de promotor e juiz e viralizar um vídeo em forma de denúncia para a coisa ter algum freio e provocar até nosso Congresso – sempre mais preocupado com “aquilo” – a despertar para Jesus. Menos mal. Antes tarde do que nunca.
Mas, Hytalo Santos não está sozinho nessa. Ele só age porque tem, antes de tudo, a autorização expressa e a omissão de mãe e pais (i) responsáveis. O próprio denunciado usou esse argumento como defesa ano passado.
Numa nova modalidade de exploração sexual, famílias vendem, literalmente, a ‘adoção’ das filhas e conferem a Hytalo Santos o direito de usá-las para seus negócios na internet. Tudo pago em troca de benefícios financeiros. O resto vem em efeito cascata e escala de milhões de views e de reais.
É duro admitir, mas é necessário dizer: o “influenciador” é o cafetão de uma parte significativa da sociedade consumidora de conteúdo que adultiza crianças e adolescentes. Uns porque acham ‘bonitinho’ e outros pela excitação pedófila.
Esse, portanto, é um caso que não pode ficar detido à espetacularização tardia e hipócrita ou centrado apenas no seu réu. Merece provocar reflexão sobre um fenômeno social maior e mais preocupante: a oferta dos vídeos só existe porque existe uma demanda de seguidores que sustentam a pedofilia com likes, curtidas, comentários e apostas.
Se o que Hytalo Santos produz é crime, e provavelmente é, estamos diante do fenômeno de um criminoso com 20 milhões de cúmplices. Conscientes ou não!