“Aqui o boa noite de Chico Cardoso, esse amigo sem arrodeio, palavra sem intermediário e inimigo da mentira”. Esse foi um prefixo habitual aos ouvidos de quem escutava rádio no Alto Sertão paraibano nas últimas décadas. Era assim que Francisco Alves Cardoso entrava no ar e abria seus programas.
Ainda adolescente, ouvi muitos deles, principalmente o ‘Parabólica Política’, na boquinha da noite na Rádio Difusora AM, de Cajazeiras. E sempre fiquei muito impressionado com a capacidade do apresentador produzir um programa de informes, opinião, análise política e entrevistas, por telefone, em apenas meia hora.
Até hoje, quando alguém faz algum elogio ao formato do Programa Hora H, um noticiário dinâmico e exibido em apenas uma hora, das 18h às 19h, sempre recorro a uma resposta: “Chico Cardoso fazia em meia hora”. Com muito menos estrutura, ele conseguia prender o ouvinte e deixar um sabor de “quero mais”.
A longevidade do ‘Caldeirão Político’, sua principal marca na radiofonia, deveu-se muito ao tempero singular performado pelo seu chefe gourmet. Do tradicional editorial, de ingredientes simples, às brasas dos seus pingos quentes com informações de bastidores da Paraíba e região.
O jeito único impôs um estilo, iniciado em Sousa, nas rádios Jornal e Progresso. Deu tão certo que Cajazeiras importou. E o “Caldeirão” foi parar nas cozinhas de todas as emissoras tradicionais da cidade – Alto Piranhas, Difusora e Oeste AM. Porque era a certeza de um bom prato servido à mesa da audiência.
Nos últimos tempos, com a debilidade da saúde do seu criador, o Caldeirão foi esquentar o menu de plataformas digitais. Abrigado na TV Diário do Sertão, de Petson Santos, Chico também botou, além da conhecida voz, a cara no vídeo, e igualmente suas camisas de cores extravagantes, como era seu jeito de existir e polemizar.
Já recluso em casa, Chico prestou comovente entrevista ao jornalista José Dias Neto, da TV Diário, em dezembro de 2018. “Se você ficar parado, você não está caminhando para morrer”? Ele insistia em se manter em movimento, querendo reativar sua tradicional festa de homenagem a Luiz Gonzaga, por quem era assumidamente apaixonado.
Naquela conversa, dentro do seu quarto, onde verteu lágrimas, ele ainda manifestou toda a esperança de quem não queria parar. “Quero voltar a ser um Chico Cardoso que vai voltar a fazer rádio e a escrever com muita força”.
Advogado, político, polemista, teatrólogo, ativista cultural, Chico Cardoso não queria ver a vida passar, quis e viveu a vida intensamente. Até quando virou um passarinho na gaiola, preso pelas comorbidades, fragilidades de saúde e quase inconsciência, e só lhe restou assoviar os dias e contar as noites.
A Zé Dias Neto, ainda ativo e seis anos atrás, o homem de fé cristã orou: “Se Deus me der 100 anos eu vou ajudando aos meus amigos com alma, força e dedicação”. Deus deu 83 anos. Mais do que o suficiente para fazer de Chico Cardoso lembrança inesquecível do rádio sertanejo.
Chico Cardoso faleceu, em Sousa, no dia 26 de julho de 2025, aos 83 anos de idade