Consta nos anais do Congresso que, em plena seca nordestina na década de 50, um deputado foi à tribuna e trocou o pronunciamento pela declamação dos versos da canção ‘Vozes da Seca’. Ao final, bradou: “Senhor presidente, esse baião de Gonzaga e Zé Dantas vale por cem discursos”.
Em Campina Grande, da tribuna do Teatro Unifacisa, Dalton Gadelha surpreendeu a plateia. Em dia histórico para a saúde do Estado, na assinatura de convênio que garante a pacientes do SUS tratamento em hospitais privados, o empresário emitiu um parecer com a eloquência própria do DNA Gadelha.
Observador e participante ativo da política da Paraíba há pelo menos 50 anos, historiou as fases da Paraíba, usou o exemplo de Santa Catarina, espremida entre Rio Grande do Sul e Paraná, olhou para o governador João Azevêdo e cravou com convicção: “O senhor é é o melhor governador da história da Paraíba”.
Dita por um aliado seria o mais do mesmo. Verbalizada por um subordinado seria só gracejo para agradar ao chefe. Em quase duas décadas de jornalismo, já ouvi essa frase algumas vezes. Algumas para afagar três governadores diferentes pela mesma e conhecida boca.
É que na nossa pequenina Paraíba, o governador de plantão costuma sempre ser “o melhor da história” nos lábios dos profissionais da política ou dos melhores bajuladores do ramo.
Dalton não é dado a elogios fáceis. É empresário consolidado, dono de uma das maiores faculdades privadas do Nordeste e construtor do maior hospital da região. Não votou em João Azevêdo em 2018 e nem em 2022. Ao contrário. Sua família tem partido aliançado com a oposição ao governo.
Coube a Dalton, um homem ligado à oposição, botar pra fora o que muitos aliados de ocasião do governador guardam na garganta. Ou por miopia política, mediocridade fisiológica ou covardia mesmo. Não que João reivindique isso. De estilo comedido, não é alguém afeito a rasgos personalistas.
A frase de Gadelha, de viva voz para uma multidão, amparada em argumentos precisos, dados oficiais e justificativa plausível, é antítese do agrado habitual destas plagas. É gesto de justo e lúcido reconhecimento. Coisa que a Paraíba reconhecerá em 2026 e a história nas próximas décadas.
Como estufou o peito aquele deputado sobre o baião de Gonzaga e Zé Dantas, 60 anos atrás, a frase de Dalton Gadelha, dita por quem disse, e em Campina Grande – no ‘coração da oposição – “vale mais do que cem discursos”.
Governador João Azevêdo durante solenidade de assinatura de convênio para ampliação do tratamento do câncer na Paraíba