Naquele tempo, qualquer menino taludo que se prezasse ia direto na barraca, ou, se não tivesse jeito, pedia, chorava até conseguir um trocado com a mãe e o pai para baixar em Seu Tozinho e levar para casa os fogos de São João.
Tozinho era um homem bom, pacato, e sempre bem humorado. Líder de uma família grande e que sempre nos recebia com a mesma alegria do patriarca, o marido de dona Licô, a enfermeira da mão mais leve que Marizópolis já teve.
Todos os fogos eram feitos cuidadosa e artesanalmente. Por ele e pelos filhos.
Em frente a um pé de figo e na sombra da parada de ônibus da São José, o comércio dele tinha de um tudo. Era bar, sinuca, mas também lá a meninada achava salgadinhos para lanchar e refresco de morango em vasilhame de vidro.
Na época junina, o cardápio aumentava e o local se transformava na embaixada dos traques, bombas e rojões para os mais corajosos, como meu irmão Hernon e companhia, e chuvinhas e piolhinhos para os mais medrosos, feito eu.
Ao redor da fogueira, na própria brasa a turma acendia as bombas de cordão e botava a rua Ana Rocha para tremer com o barulho. O terror para os mais velhos e para os cachorros da vizinhança, que saíam, coitados, em desatinada carreira.
Eu, no máximo, me arriscava com a bola de pedra azul – uma esfera recheada de pólvora que ao contato com o chão de cimento soltava pequenas explosões.
De tão explorada, ela só era descartada quando o azul celeste era totalmente consumido por todos os lados. Até se quebrar ao meio e não servir para mais nada. A não ser de faíscas de lembranças do São João daqueles ontens.