A barraca de fogos de Seu Tozinho – Heron Cid
Crônicas

A barraca de fogos de Seu Tozinho

22 de junho de 2025 às 12h31 Por Heron Cid

Naquele tempo, qualquer menino taludo que se prezasse ia direto na barraca, ou, se não tivesse jeito, pedia, chorava até conseguir um trocado com a mãe e o pai para baixar em Seu Tozinho e levar para casa os fogos de São João.

Tozinho era um homem bom, pacato, e sempre bem humorado. Líder de uma família grande e que sempre nos recebia com a mesma alegria do patriarca, o marido de dona Licô, a enfermeira da mão mais leve que Marizópolis já teve.

Todos os fogos eram feitos cuidadosa e artesanalmente. Por ele e pelos filhos.

Em frente a um pé de figo e na sombra da parada de ônibus da São José, o comércio dele tinha de um tudo. Era bar, sinuca, mas também lá a meninada achava salgadinhos para lanchar e refresco de morango em vasilhame de vidro.

Na época junina, o cardápio aumentava e o local se transformava na embaixada dos traques, bombas e rojões para os mais corajosos, como meu irmão Hernon e companhia, e chuvinhas e piolhinhos para os mais medrosos, feito eu.

Ao redor da fogueira, na própria brasa a turma acendia as bombas de cordão e botava a rua Ana Rocha para tremer com o barulho. O terror para os mais velhos e para os cachorros da vizinhança, que saíam, coitados, em desatinada carreira.

Eu, no máximo, me arriscava com a bola de pedra azul – uma esfera recheada de pólvora que ao contato com o chão de cimento soltava pequenas explosões.

De tão explorada, ela só era descartada quando o azul celeste era totalmente consumido por todos os lados. Até se quebrar ao meio e não servir para mais nada. A não ser de faíscas de lembranças do São João daqueles ontens.

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