“O passado me traz uma lembrança do tempo que eu era criança”. Esse “Poema” foi deixado por Cazuza e seus versos ficaram perdidos num desses baús. Achados, viraram música nos acordes de Frejat e ganharam vida na voz de Ney Matogrosso.
O poeta tinha razão. As lembranças de infância costumam teimosamente se manter vivas. Em gestos, palavras e às vezes de formas surpreendentes e involuntárias.
De quando em vez, me pego reproduzindo coisas de minha mãe, dona Marizete. Coisas, inclusive, que o filho reclamava. Como dedicar tanto tempo, energia e empenho com problemas de “pessoas de fora”, desconhecidas dos olhos.
Vi aquela jovem mãe solteira renunciado seu conforto e investindo parte da sua vida a estancar dores de outras vidas. Vi sua mão estendida para gente esquecida, vi suas lágrimas chorando a dor que não era sua ou gritando a voz contra a injustiças que não lhe atingiam diretamente. Pagando preço por isso. Pessoal, familiar.
E não entendia a razão e o porquê.
Hoje, quando sinto muito pela dor alheia, e me pego alquebrado pelo sentimento de impotência, ou quando viajo léguas tiranas para tentar fazer algo, ainda que quase não reste nada a fazer, quando me sinto cansado ou incompreendido por lutas que aparentemente não são minhas, e quando, meio perdido, quase com raiva de mim, me pergunto por que?
Tal qual o poeta, volto ao passado, lembro daquela mulher e penso quantas vezes ela também não fez as mesmas perguntas para si, no silêncio e no soluço. Olhando para os filhos que deixava no começo do dia e só conseguia beija-los no fim da noite.
Tudo o que aquela criança viu e, mesmo sem querer e nem entender direito, esse adulto aprendeu e repete, feito aquela canção de ninar. Essa é “uma coisa sua que ficou em mim’, mainha!