Era um 19 de fevereiro de 1930. Naquela data, narra o escritor Tião Lucena em “A Guerra de Princesa”, o presidente João Pessoa e comitiva adentram Princesa Isabel, no sertão paraibano. Lá, foram recebidos por um insatisfeito coronel Zé Pereira. A visita, vista como uma oportunidade de armistício, foi o estopim para o icônico conflito que a história testemunhou meses depois.
Quase cem anos depois, na mesma Princesa Isabel, Cícero Lucena (PP) riscou o chão e demarcou, de uma vez por todas, seu território político no bloco governista da Paraíba. Nos estúdios da Princesa FM, o prefeito de João Pessoa deu uma declaração reveladora do seu espírito disposto a ir as últimas consequências para fincar o pé na eleição de 2026.
“Não são as questões naturais que elegem. Quem elege é o povo, é a vontade do eleitor. Lucas (Ribeiro) é um jovem de experiência política, é um ser humano maravilhoso, mas nós estamos falando de política”. Dita em resposta à pergunta do autor deste Blog – se votaria na ‘candidatura natural’ do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), caso este assuma o governo -, a fala dispensa maiores traduções.
Em outras palavras, Cícero colocou em dúvidas o potencial do seu companheiro de partido e vice-governador, mesmo no cenário de exercício do poder e com candidatura à reeleição na praça, hipótese sinalizada pelo governador João Azevêdo (PSB) que se inclina pela desincompatibilização do cargo para disputar o Senado.
As palavras foram proferidas poucos minutos antes de o prefeito dividir o mesmo espaço – em clima anuviado – com o vice-governador na mesa solene do Orçamento Democrático, na cidade cujos fatos históricos precederam a Revolução de 1930. Um dia anterior, Lucena já havia surpreendido ao desembarcar, sem prévio aviso, em Itaporanga, onde o governador e secretariado cumpriram agenda. Muitos não disfarçaram a inquietação diante da “visita inesperada”. João Azevêdo, porém, não passou recibo.
Na emblemática Princesa Isabel, o desassombrado Cícero Lucena não declarou guerra (ainda!). Mas deixou no ar inequívoco sinal de alerta ao seu partido, o Progressistas, e, por tabela, a toda a base governista. O prefeito não abrirá mão de avançar sobre o território que solenemente declarou livre. Com ou sem Lucas Ribeiro no Palácio. Uma prévia da Revolução de 2026?