A hora de Walter Santos, escritor em tempo real – Heron Cid
Crônicas

A hora de Walter Santos, escritor em tempo real

24 de abril de 2025 às 20h50 Por Heron Cid

Estudante de Jornalismo da UFPB, morador de pensionato no Castelo Branco, as tardes ficavam para preencher o tempo com alguma ocupação complementar ao curso. O destino recorrente era o Chip, perto da famosa Praça da Alegria. Foi lá no Laboratório de Informática do CCHLA que aprendi a melhorar a datilografia (sou desse tempo!), utilizando um precário programinha na Internet. A mesma rede que me deu a descoberta do WScom e da coluna diária de Walter Santos.

Nada escapava ao periscópio do atento jornalista. Os bastidores do universo partidário, as articulações das lideranças, a formação das chapas e as intrigas do poder. Apaixonado por política, o espaço virou minha leitura obrigatória e viciante. Do texto de abertura ao verso musical final, o arremate que até hoje dá o adeus aos leitores fieis. Eu sempre compus essa legião e mais tarde, por felicidade do destino e graça do tempo, além de admirador, virei amigo e companheiro de jornada de militância pela organização, profissionalização e reconhecimento da mídia digital.

Um mercado hoje em pleno avanço e que deve muito a histórica contribuição do fundador e desbravador do WScom. Nessa floresta virtual, Walter foi o primeiro a formalizar uma empresa, com grande equipe, sede, estúdio e muita influência no debate do poder e da sociedade. Visceral, o menino ilustre da Torre nunca foi de fazer nada pela metade. Para o abraço total do sonho, renunciou prestigiada coluna no vigoroso Correio da Paraíba, assessoria no Sebrae-PB e emprego na Universidade Federal da Paraíba.

Poderia ser somente um gesto individual, um faro empresarial ou mero romantismo profissional, próprio dos jornalistas vocacionados. Foi muito mais. Ele fundou uma escola no jornalismo digital. Sua veia empreendedora deu empregos, mas também formou dezenas de profissionais que hoje são pilotos de seus próprios sites, blogs e portais, frutos da boa semeadura do filho de  Maria Júlia, de quem herdou como único patrimônio a coragem de lutar e vencer na vida. Pelo mérito do esforço, pela via da educação.

A biografia de Walter Santos comporta muitas outras referências e haverá quem fale sobre ele com muito mais autoridade. Como os ex-presidentes da Associação Paraibana de Imprensa, entidade onde Walter imprimiu sua marca de vanguardismo e compromisso coletivo de cidadania. Todos seus colegas de missão foram dar pessoal testemunho e pública solidariedade no ato de registro da legítima e respeitável candidatura de Walter à Academia Paraibana de Letras, seu mais novo e honorário desafio.

O atrevido fundador da Revista Nordeste chega nesta sexta-feira, data da escolha dos acadêmicos da APL, com o currículo incontestável de valiosa colaboração à cultura popular, da qual é ardoroso e convicto defensor, ativista das causas mais vitais da João Pessoa que ama com filial devoção, polemista dos dramas e problemas da capital e do Estado e narrador dos fatos mais importantes dos últimos quarenta anos da vida política e social dessa nossa Paraíba.

Mas, principalmente, com a distinção de um historiador em tempo real. Sim! Porque, como classificou Eduardo Portella, na Academia Brasileira de Letras, é isso o jornalista: escritor em regime de urgência. Com tintas de suor digno e compromisso humano de vida, Walter ajudou a escrever – literalmente – várias páginas importantes da nossa história recente. Está nos anais dos jornais, nos algoritmos das redes.

Por isso, a sua presença na Academia Paraibana de Letras acrescenta ao fervente caldeirão intelectual da Casa de Augusto dos Anjos o ingrediente racial e social, tingido na pele da superação de preconceitos estruturais. Ainda encorpa o caldo cultural que ele sempre teve disposição, músculo e cérebro para mexer. Reconhece, por gravidade, a relevância do ativismo voluntário e homenageia, com letras grandes, o jornalista Carlos Aranha – o último ocupante da cadeira que agora seu amigo pleiteia. Comovidamente.

Desde sua genes, essa postulação à APL não é só de Walter. Ela é a gestação do estímulo ao reconhecimento de um legado e parto natural da representação de um multifacetado movimento cultural, social, político e jornalístico. Não é o caso de a imprensa arrebatar uma cadeira na Academia, é a cadeira que manterá o DNA vibrante e inquieto da imprensa. Essa gente que, por ofício e dever sacerdotal, escreve no desafio da meteorologia das emergência para catalogar a história em tempo real. E agora em letras digitais povoa as bibliotecas das nuvens. Walter Santos tem asas para este novo e grande voo.

Comentários