Em 1906, Winston Churchill, à época integrante da Câmara dos Lordes do Reino Unido, procurou acalmar os parlamentares liberais mais preocupados com o Partido Trabalhista, comparando-o a “um balão que sobe facilmente até certa altura, mas depois de certa altura recusa-se a subir mais, porque o ar é rarefeito demais para sustentá-lo e fazê-lo flutuar”. A previsão – mostra a história – estava errada.
Quando peitou e venceu o até então imbatível e poderoso Ricardo Marcelo, em 2015, imaginava-se que o deputado Adriano Galdino (Republicanos) havia atingido uma proeza inimaginável. Não dava para calcular que, em 2019, ele conseguiria voltar e se eleger antecipadamente para dois biênios, deixando na poeira um governador e um ex.
Chegou 2023, Galdino repetiu a dose e dobrou a aposta, emplacando mais quatro anos de comando. Um percalço no caminho. O STF anulou a eleição antecipada. Para qualquer outro seria um problema. Menos para Adriano. Ninguém ousou atravessar seu caminho. Governo e oposição imobilizados, ele se antecipou com nova eleição, contabilizando a garantia de uma década de controle férreo da Assembleia.
Alguém poderia pensar que, depois dessa, o balão de poder de Adriano subiu demais, ficando impossível sustentá-lo no ápice. Veio a eleição para vaga do Tribunal de Contas do Estado e, sem o histriônico Tião Gomes no caminho, o presidente do Poder conseguiu emplacar a sua filha, Allana Galdino – um nome de fora do parlamento. Sem quaisquer questionamentos ou ponderações.
Dessa indicação pessoal, Adriano fez em cinco dias a alquimia de uma postulação única, atestada pelos gregos do governo e os troianos da oposição, subscrita incrivelmente por 34 apoios – a quase unanimidade dos seus pares. Do PT de Cida Ramos ao PL de Cicinho Lima, todos – à exceção de Walber Virgolino e Hervázio Bezerra – disseram ‘amém’, em coro, à unção presidencial.
O movimento confirma o inapelável e absoluto senhorio de Galdino na Casa e a relação de crédito perante seus colegas. Estamos ante um presidente que exerce o poder na plenitude, de forma total e irrestrita, sem precedentes, como ninguém ousou até hoje. E desse controle, definitivamente, não abre mão, nem divide essa hegemonia com ninguém.
Contrariando Churchill, Adriano vai inflando o balão da sua liderança, fazendo-o subir ainda mais, sustentando a flutuação acima da altitude limite. Em desassombrada coragem, desafia todas as pressões atmosféricas e políticas e consegue respirar – sem dificuldades – em pleno ar rarefeito. Um caso a ser estudado.