O desfecho trágico do cantor e compositor Belchior, que sumiu do mapa e só apareceu morto, é quase sempre atribuído, de forma indireta, à figura de Edna Prometheu. Foi ela quem conviveu com o artista nos últimos dez anos de vida e perambulou de cidade em cidade, praticamente, vivendo na indigência voluntária.
Amigo de Belchior, o professor José Gomes Neto, não acredita tanto nisso. Ao autor do Blog, numa entrevista gravada em Natal-RN, em julho de 2021, Gomes até acha que Edna teve participação no drama, mas não acredita que alguém dotado da inteligência e autonomia do criador de “Como Nossos Pais” seria manipulável a esse ponto.
Recordei dessa história ao assistir as últimas análises sobre o momento de fragilidade política do governo Lula. Andreia Sadi e Daniella Lima, ambas da TV Globo News, debitam na conta da primeira-dama, Rosângela da Silva – Janja para os mais íntimos – o isolamento político do presidente, “capturado”, no dizer do advogado Antônio Carlos Kakay.
Aqui, sou obrigado a repetir o professor Gomes no Caso Belchior. Alguém com sagacidade e a história pessoal de Lula seria marionete de uma esposa neófita em política, alguém até pouco tempo absolutamente anônima e sem qualquer experiência no jogo do poder? Claro, que não.
Se Lula não é mais o mesmo, como sugere o seu amigo Kakay, não é por um surto passional ou passividade extrema. É porque, antes de tudo, ninguém é a vida inteira a mesma coisa. Principalmente, com o avançar do crepúsculo dos anos. Em especial Lula, um sujeito que viveu uma última década tumultuada por perdas afetivas, emocionais, pessoais e de imagem.
Se o presidente tem conversado pouco com lideranças é porque enfastiou-se do que fez a vida inteira, como qualquer um, e está de saco cheio de certas concessões para a tal governabilidade. Se prefere o isolamento, é porque a sua nova fase, aos 79 anos, o leva – voluntariamente – a esse comportamento.
Janja pode até ter uma personalidade possessiva, tal qual indicam as apurações de Andreia e Daniella. Admite-se que ela também age de forma equivocada como se reivindicasse uma liderança, que nunca teve. Chega ao equívoco e ilusão de achar que foi eleita com ele nas urnas de outubro de 2022.
Mas, daí é exagero sentenciá-la pelo descaminho do governo e pintá-la de bode expiatório – Deus me livre de usar o termo no gênero feminino! O presidente é Lula! A culpa, portanto, não é de Janja, meninas. É do marido. Por opção, ação ou omissão. Afinal, já estamos velhos de saber: “O novo sempre vem”, não é Belchior?