Médico de Unidade de Saúde da Família (USF) batendo o ponto a cada duas hora é possível? É viável? A pergunta vem da proposta do vereador Guga Moov Jampa (PSD). O projeto chega como um grande provocação.
Claro que a iniciativa peca por um exagero, mas acerta ao abrir o necessário debate sobre a qualidade da prestação de serviço público. E principalmente por tocar na ferida dos corporativismos.
Até agora as reações, principalmente de vereadores, são sempre em defesa do profissional médico, que merece sim nosso respeito e reconhecimento. Mas, quase nenhuma palavra em defesa do direito do cidadão.
E isso mesmo com as constantes reclamações da população e denúncias – de João Pessoa a Cachoeira dos Índios – da ausência de profissionais de saúde e da falta de substituição destes, inclusive em recesso.
Doença tira férias? Quando um médico se licencia no Hospital da Unimed ou numa urgência de uma clínica particular, por exemplo, a recepção manda o cliente voltar para casa e só voltar no próximo mês?
Então, o grande mérito dessa polêmica é a oportunidade de perguntar e sentir o pulso do povo sobre qual nível de satisfação com o serviço público de saúde.
O poder público deveria fazer essas aferições permanentemente. Pesquisa de qualidade mesmo. O cidadão tem o direito de opinar, avaliar e dar sua nota.
Ninguém pode melhorar o que não se mede. Na gestão privada é assim. Banco faz isso, supermercado, clínica, plano de saúde, farmácia. Porque o usuário do SUS , que o sustenta a preço caro, não é ouvido?
É bom sempre lembrar. No serviço público, todos são servidores, inclusive os médicos. Então, eles e todos os demais funcionários do público devem trabalhar e se esforçar para um atendimento digno. E nem precisam bater ponto de duas em duas horas. Basta na entrada e na saída do sagrado horário de expediente.
Ainda que seja descartado, como provavelmente será, o projeto já bateu um ponto. Botou o dedo numa ferida (quase) intocável.