Um conselho de ontem aos casais de hoje (A Crônica de Domingo) – Heron Cid
Crônicas

Um conselho de ontem aos casais de hoje (A Crônica de Domingo)

19 de janeiro de 2025 às 16h02 Por Heron Cid
Marly, dona Creuza, eu e um mandamento atemporal

Dita por um Cortella, Pondé ou Karnal soaria filosofia. De algum livro de Augusto Cury ou do conterrâneo Rossandro Klinjey, autor de “As Cinco Faces do Perdão, seria auto conhecimento. Meditada nos inúmeros versículos bíblicos, mandamento.

Veio, porém, da boca de dona Creuza, uma ex-secretária escolar na flor dos seus 89 anos. E ela tem autoridade no assunto. Casada por mais de cinquenta anos, comeu muitos quilos de sal com o senhor Pedrinho carcereiro, de Alagoa Grande, no brejo paraibano.

Durante meio século, a senhorinha exerceu na plenitude o que me ensinou, nesses dias. Ao lado de minha esposa, Marly, perguntei: “Dona Creuza, qual o segredo do casamento”?

Sem pensar muito ou refletir, ela foi direta na singela e segura resposta: “Perdoar, meu filho”! Mas esse perdoar, explica dona Creuza, não é só dá boca pra fora. Como o amor, começa com uma decisão.

Não que o Seu Pedro fosse um santo. Tinha, como todo mundo, suas faltas. Muitas vezes, a esposa era visitada ou abordada por quem vinha na intenção de contar um fuxico ou jogar uma sugesta para desestabilizar o casal. “Perdeu sua viagem”, reagia na lata.

Entre um ou outro defeito, Creuza preferiu por cinco décadas se apegar as qualidades do pai dos seus nove filhos e nunca deu brecha – da parte dela – para desentendimentos e discussões.

Hoje, a viúva que viu o marido definhar, vítima de um câncer fulminante, ainda mareja os olhos de saudades ao lembrar e falar do marido, falecido 14 anos atrás.

Orgulha-se em afirmar nunca ter brigado com o amado. E não era exatamente por falta de motivo. É que no manual de dona Creuza e no evangelho da vida, quem mais a gente ama é quem mais a gente perdoa. E o contrário também.

Não só para casais, essa é uma verdade atemporal.

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