Ato do 8 de janeiro e a fronteira entre ditadura e democracia – Heron Cid
Opinião

Ato do 8 de janeiro e a fronteira entre ditadura e democracia

8 de janeiro de 2025 às 19h54 Por Heron Cid
Baixa adesão popular tem amplo significado e 8 de janeiro impõe reflexões para direita e esquerda

A democracia não é patrimônio exclusivo de um partido ou de um campo político. Essa defesa é um consenso da maioria dos brasileiros. Somente os radicais, sem memória e convicção democrática pensam e pedem o contrário.

Talvez por isso mesmo o ato deste 8 de janeiro, convocado pelo governo Lula, seja assimilado como movimento partidarizado e resultou em incipiente atração popular, apesar do mérito inquestionável do tema.

O evento em Brasília foi institucionalizado, mas o governo – dono de estrutura gigante – foi incapaz de mobilizar e aglomerar pessoas. Rendeu um público inexpressivo para o tamanho da propaganda e relevância.

Se o governo puxou a convocação e tomou para si o bônus, teria a obrigação política de botar gente na praça.

E o que aconteceu?

Um movimento essencialmente suprapartidário, mas carimbado pela esquerda, terminou em fiasco e deu corda para o bolsonarismo esticar e comemorar. Comemoram os que são contra o governo e os têm pouco apreço pela democracia.

O evento valeu, ao menos, pelo caráter simbólico.

O ato não pode ser medido ou diminuído pelo tamanho do público. Fracassamos bem antes, enquanto país, quando a democracia produz desilusões e abre espaço para todo tipo oportunismo político e autoritarismo como respostas às falhas do sistema.

A baixa adesão sinaliza, ainda, que o brasileiro já virou essa página. Os golpistas estão na cadeia, como manda o Estado Democrático de Direito, a democracia está preservada e a vida que segue.

O 8 de janeiro é uma maneira de lembrar de não esquecer do crime cometido contra as instituições democráticas do Brasil, mas também uma oportunidade de o que ainda existe de direita consequente e moderada repelir o terrorismo político. Igualmente uma chance para o PT – partido que governa a República, rever o seu conceito sobre democracia e golpe.

É nulo e pouco convincente pregar democracia aqui e defender, com nota pública e tudo, o processo ditatorial na vizinha Venezuela, marcada por fraudes, prisões, mortes e perseguição contra adversários. O discurso precisa ultrapassar a fronteira e encontrar a prática.

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