Jovem aluno de Direito ouviu de um colega de curso o sonho de ser ministro do Supremo. Em seguida, foi interpelado: “E qual é o seu sonho”? A resposta: “Nomear você”! O rapaz, que sonhava na época ser ministro do STF, agora é juiz. O que reagiu com a tirada da nomeação é o hoje senador Efraim Filho (União).
O revide jovial foi, claro, uma brincadeira. Em alguma medida, porém, reflete um quê de ousadia. Foi esse espírito, somado a vários fatores conjunturais, que alçaram Efraim à Casa Alta de Brasília, disputando pela oposição e correndo todos os riscos naturais de uma batalha com outros três concorrentes, entre eles um ex-governador.
A melindrosa costura de 2022, tecendo oposição e parte do governo na sua rede de apoio, é a que ele tem se determinado a reprisar em 2026, dessa vez como candidato a governador. Cuida, para tanto e até aqui com relativo sucesso, de preservar no seu entorno os mesmos prefeitos que votaram nele para senador, mesmo aqueles da base do governo e até filiados ao PSB.
Na leitura de Efraim, revelada na entrevista ao autor do Blog, na Hora H, da TV Manaíra, a sucessão estadual vindoura abre uma avenida – larga e sem semáforo – para renovação e alternância de um poder exercido há 16 anos pelo mesmo grupo político original, fendido em 2019 pela cruz da Operação Calvário. Diagnostica cansaço de um lado e oportunidade do outro.
Efraim ligou seu satélite político e transmitiu, ao vivo, uma mensagem pública com endereço preciso feito GPS: Hugo Motta e o Republicanos. Deixou, também, a porta aberta para o diálogo com PP do clã Ribeiro, na hipótese de eventual descompasso com o governador João Azevedo (PSB) na negociação da sucessão.
Em linguagem simples e pragmática da política, o senador aposta na rachadura do Palácio, gerando manutenção e conquista dos apoios dissidentes, tal como na eleição anterior para o Senado, e na unidade de uma oposição que comanda e pela qual, se quiser, será por ela ungido, sem grandes dificuldades e agonias.
O sonho de ser presidente da República, compartilhado com o amigo de faculdade, é uma utopia distante demais, mas Efraim parece, por ora, determinado lutar pelo posto que lhe garante o direito de, entre outras coisas, nomear aquele contemporâneo de faculdade pelo menos no Tribunal de Justiça da Paraíba. O estoque de ousadia está em dia!