Hoje despertei com aquelas canções cristãs entrando pelas frestas da janela da casa número 18 da Rua Ana Rocha. O dia ainda nem acordara direito e Padre Zezinho e os Cantores de Deus já cantavam nos discos da Capela de Santo Antônio.
Nessa época, o repertório ganhava ainda o brinde dos acordes tradicionais, com cantigas natalinas, tocando mais forte o Sino de Belém e mensagens de boas vindas ao Deus Menino.
Mais tarde, já com Marizópolis em movimento de feira livre, recebendo gente de todo canto, chegava a vez e a hora regular do Serviço de Som A Voz Serrana acionar suas difusoras.
O equipamento lia seus avisos e dava os informes municipais nas vozes de Cláudio José, Gué Morais, Cassiano Ferreira e Daniel Elias. Bem ao lado da Bodega de Chico Laurindo, no centro da cidade, curiosos passavam pelo “aquário” para admirar de perto a locução.
Quando a Voz Serrana calava, em poucos instantes ouvia-se o estrondo da Voz Alternativa e seus potentes alto-falantes, dispostos bem no topo do largo do Mercado Público.
De tão fortes, poderiam ser ouvidas lá dos arredores da fazenda de Joquinha, na zona rural, e se, o vento ajudasse, dizem que até do Sítio Túnel, perto da parede do Açude de São Gonçalo.
Enquanto vendedores se espremiam entre tarimbas e barracas improvisadas, os graves de Carlos Alexandre embelezavam o fim da manhã de domingo, com convites, apelos de solidariedade e campanhas de doações.
Os belos e tristes arranjos de Ray Conniff se misturavam aos gritos dos preços de banana, de carne de porco, fumo de rolo, bacias, jogos de bozó, bolsas, sapatos, roupas e o relinchar dos cavalos, burros e jumentos estacionados.
No meio da zoada, tinha quem nem prestasse atenção ao que era dito nos microfones ou no fundo musical daqueles domingos. Menos um curioso e calado menino, que hoje amanheceu ouvindo ‘tudo outra vez’.