Análise: a reeleição de Cícero, um case de resiliência – Heron Cid
Opinião

Análise: a reeleição de Cícero, um case de resiliência

28 de outubro de 2024 às 16h50 Por Heron Cid
Da pré-campanha à reta final da eleição, prefeito superou desertos políticos e cenários de tensão

Uma vitória eleitoral nunca é explicada apenas por um fator. No caso de Cícero Lucena (PP) uma palavra, porém, sintetiza sua quarta eleição para prefeito de João Pessoa: resiliência. A física trata o termo como a capacidade de um material retornar ao seu estado normal depois de submetido a uma tensão.

E tensão foi o que sobrou à jornada de Cícero, desde a pré-campanha, por sinal. Lucena virou o ano de 2023 emparedado pelas dúvidas sobre a competitividade do projeto de reeleição. Ouviu – de muitas fontes e lados – declarações e torcidas que resultavam em vulnerabilidade à suas pretensões.

Com paciência monástica, reverteu o movimento interno de candidatura própria do PSB, seu principal parceiro em 2020, e recebeu do governador João Azevêdo (PSB) o referendo político-administrativo e a manutenção da estratégica aliança. Fechou um arco de apoios que foi de PDT a Republicanos e manteve a porta aberta com setores do PT, mais tarde aliados de segundo turno.

Na campanha, não teve vida fácil. Com três adversários uníssonos em discurso de elevado tom, o prefeito pereceu momentos amargos no auge do primeiro turno. Numa manhã, viu uma filha atingida por estilhaços de uma investigação, com toda a turbulência que isso implica, e, contrariando todo o vendaval e projeções, à noite estava de pé no debate da TV Manaíra. Detalhe: fez o impossível e se saiu bem no confronto.

Na reta final do primeiro turno, a pancada maior. A uma semana do pleito, assistiu sua companheira, Lauremília Lucena vivendo o fato mais impactante da disputa. À noite, no mesmo dia, estava refeito do baque emocional e diante das câmeras e dos adversários em novo debate, dessa vez na TV Correio. Novamente, conseguiu segurar o leme emocional, com espantosa força interior e surpreendente desempenho. Beneficiado pelos excessos da tônica dos concorrentes, reverteu a conjuntura para vitimização e por pouco não venceu no primeiro turno.

No segundo turno, teve o feeling de não morder a isca da polarização nacional. Apesar de tentado, deixou Marcelo Queiroga (PL) sozinho na aposta da ideologização e permaneceu fiel ao seu estilo moderado de homem de centro, dialogando matemática e acertadamente com todas as vertentes eleitorais. Ao fim, a cidade, além de razão, lhe deu 258 mil sufrágios (63.91%) e uma maioria de 112 mil votos. Do tamanho da sua capacidade de resistir.

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