O presidente Lula (PT) devia uma agenda à Paraíba. E ele quitou a “dívida” em grande estilo, num dia de fogo e de intensa programação no estado. Poderia apenas cumprir protocolos, mas decidiu falar. Não só em discursos oficiais, mas numa entrevista de cerca de uma hora de duração onde falou sobre quase tudo.
Da agenda e da entrevista concedida a Wallison Bezerra e ao autor do Blog, no Programa Hora H, da Rede Mais, Portal MaisPB), e Rádio POP FM, de João Pessoa, dá pra medir duas temperaturas presidenciais.
Primeiro, a agenda foi institucional e claramente na direção do governador João Azevedo (PSB) – seu eleitor de dois turnos – , um prestígio político que Lula ainda tinha na gaveta de débito.
O presidente foi glacial ao tratar de temas locais, evitando melindrar com aliados. Não desagradou, não entrou em conflitos e calibrou cada palavra. Saltou a fogueira da política estadual e botou um gelo na eleição municipal, mesmo seu partido, o PT, tendo candidato próprio (Luciano Cartaxo).
Respeitou as idiossincrasias de uma base de apoio eclética, com uma frase lapidada para a ocasião: “Eleição é para gente fazer amigos, não para criar inimigos”. No idioma adaptado de Lula, “não quero briga com ninguém”!
Todavia, o termômetro dos assuntos nacionais e internacionais registrou outro grau de reação em Lula. Foi enérgico, contundente e decidido ao enfrentar o bilionário Elon Musk e os ditadores Nicolás Maduro e Daniel Ortega.
Sobre a encrenca do dono do X, o presidente falou como líder da Nação. Para os “companheiros” da esquerda, Lula agiu como chefe de Estado, não de partido.
Na impactante entrevista, não titubeou e nem se deixou levar por afinidades ideológicas. Separou – com perícia – as afinidades ideológicas das questões diplomáticas.
Ao comentar a escolha para o Banco Central, não economizou nos elogios ao economista Gabriel Galípolo e voltou a subtrair pontos do atual presidente, Roberto Campos Neto.
Com 78 anos nas costas, Lula ainda tem muita lenha para queimar, como sugeriu sorridente e maroto nos bastidores após a entrevista. Mas provou, na agenda da Paraíba, que sabe a hora de acender fogueira e de jogar água na fervura.