Na ressaca do carnaval, ainda queimam as cinzas da polêmica de Baby do Brasil e Ivete Sangalo. No auge da folia de Salvador (BA), Baby do Brasil convocou todos ao arrependimento enquanto é possível e profetizou o ‘Apocalipse’ – evento previsto pela Bíblia. E ainda estipulou o prazo para o cataclisma: entre cinco e dez anos. Quem a revelou tão preciso calendário?
A veterana cantora foi imediatamente cortada por Ivete Sangalo. Visivelmente contrariada, a estrela baiana prometeu salvar a todos e “macetar” o Apocalipse, uma referência ao hits do momento, sucesso na sua voz em parceria com Ludmila.
Poderia ser só uma tirada com bom senso de humor, mas não foi. Pelo tom das duas, virou logo debate nas redes sociais país afora. Uma ala classificando Baby de inconveniente ou fanática. Outra achando que a carismática Ivete reagiu arrogantemente.
Para aumentar o frisson, dias seguintes Sangalo enfrentou vários defeitos técnicos com seu trio elétrico na avenida. Quem até horas atrás havia avisado – em tom de ironia – dos seus super poderes para barrar o fim do tempos desabafou chorando sua impotência diante dos problemas.
Bastou isso para muita gente encarar os desacertos na produção da cantora como manifestação inquestionável do castigo divino. Criou-se a onda da revanche celestial contra a “heresia” sangaliana.
Polêmicas à parte, a “treta teológica” serviu para identificar como ainda convivemos com a intolerância religiosa no Brasil. E de todos os lados. Entre os que debocharam do alerta profético de Baby e entre os que comemoraram as desventuras de Ivete.
Mas também revelou o que cada uma das duas celebridades acredita. Agora se sabe ainda mais sobre a fé que Baby professa e não há mais dúvida sobre as ‘energias’ que Ivete realmente crê. Cada uma com seu individual direito de escolha.
Inconveniente ou não, é preciso reconhecer. Como cristã, Baby do Brasil foi ousada. Como mulher, teve personalidade. Dizer o que disse – e onde disse – é para quem tem coragem! (Se tivesse revelado outra religião menos “careta” ou pregado algo mais bonitinho e da moda, teria sido ridicularizada ou aclamada?)
Ao seu modo, ao vivo em rede nacional de televisão e em plena festa onde quase todas as regras vão abaixo, ela nadou contra a maré e deixou uma reflexão existencial, universal e atemporal, cujo efeito ultrapassa os dias de folia. Certamente, porque tem mais poder e maior prazo de validade que efêmeras ‘macetadas’, logo logo cinzas de carnaval…